O que são BDs? Um segundo corte - parte 2: Ulysses

por

Ciro I. Marcondes

Para quem está perdido no nosso guia idiossincrático da estética e cultura das HQs francobelgas, pode ler a introdução ao segundo corte e o primeiro texto (

Andarilho dos limbos

)

aqui

, além dos textos do primeiro corte (

aqui

). Li

Ulysses

numa reedição americana,

Heavy Metal Classics

, de 2006, que reúne os dois volumes da obra. É uma leitura leve, deliciosa e estimulante.

Polifemo

2: Ulysses (Georges Pichard e Jacques Lob)

Zeus e os deuses do Olimpo: Legião dos Super-Heróis?

Concorda-se hoje que dia que a

Odisseia

seja uma coletânea de mitos das tribos gregas arcaicas reunidas em textos tradicionais cuja disseminação se dava, primeiro, apenas oralmente, e que depois foram organizadas por dois ou três aedos

que acabaram sendo convencionalmente reunidos sobre a alcunha “Homero”

, no Séc. 8 a.C. À

Odisseia

junta-se a outra epopeia clássica, a

Ilíada

, além de outros textos épicos que se perderam, muitos deles ainda na época da antiguidade. Estes textos sobreviventes fazem parte de nossa fundamentação filosófica, histórica e religiosa, e deveriam ser lidos cuidadosamente por qualquer cidadão que se interesse minimamente por cultura ou história. Estas estruturas míticas, que englobam a criação de arquétipos definidores, preceitos morais e toda uma substância linguística herdada pelo ocidente, se manifestam em grande escala em nossos conceitos filosóficos, literários, psicanalíticos, sociológicos e políticos. Obviamente, a

Odisseia

é um dos textos mais apropriados, parodiados, reprocessados e adaptados da nossa história.

Enquanto outras mídias procuraram sempre reinventar o sentido da tenebrosa viagem de retorno de Ulisses

(ou Odisseu, para os gregos) após vencer a guerra de Tróia, os quadrinhos realizaram apenas leituras tímidas, quase todas adaptações infantis.

A arte safadinha de Pichard

O que torna essa versão realizada pela incrível dupla Pichard/Lob diferente de tudo que foi feito em relação ao peso histórico deste texto é sua alucinante adequação ao

esprit d'époque

no qual os autores estavam mergulhados. O já falecido Georges Pichard foi um dos mais talentosos e inquietos mestres do erotismo francês, e a maior parte da sua obra em quadrinhos foi dedicada ao aperfeiçoamento desta arte, tão cultivada pelos gênios setentistas da

Métal Hurlant

. Pichard detém um traço ao mesmo tempo expressivo e delicado, de alta personalização e identificação. Seus cenários e figurinos são floreados de elegante

art-nouveau

, inundando as páginas com cores suaves e curvas sinuosas, deixando seus personagens com forte carga sensual, inequivocadamente sensual, impterivelmente sensual. Suas mulheres, com olhos grandes e vibrantes, sardas salientes e curvas difíceis de se ignorar, chegam quase a exalar perfume róseo saído de dentro das páginas da HQ. Toda essa imersão em um ideal grego de beleza fez com que ele encontrasse, na

Odisseia

, um foco muitas vezes ignorado nas transposições habituais da obra, que é essa urgente sensualidade e a presença constante de volúpia e desejo nas ações que norteiam os heróis.

As sereias

Por outro lado, o tradicional roteirista de Pichard, Jacques Lob (também falecido), encontra uma segunda maneira (à parte a sensualidade) de manifestar este estilo setentista a uma história tão distante no tempo. Sem perder completamente o embasamento no original de Homero (a época e os personagens se mantêm) e influenciado por uma leitura bem-humorada, sacana e

cool

dos padrões e personalidades dos deuses gregos – que mistura Stanley Kubrick,

Erick von Daniken

,

Stan Lee

e um tanto de outras coisas –  Lob vê na trajetória do rei de Ítaca uma grande afinidade com o estilo sci-fi descolado da

Métal Hurlant

. Assim, transforma os deuses não em criaturas mágicas, mas em sujeitos avançados tecnologicamente e de mentalidade moderna, com visual

chic

e arrojado, comportamentos liberais e pós-modernos; figuras hedonistas, cínicas, junkies, devassas, dândis.

Netuno

Esta combinação robusta de talento e

timing

para se perceber como contar um clássico à luz de sua própria época (a HQ foi publicada originalmente em dois volumes, em 1974 e 75) faz do

Ulysses

de Pichard e Lob uma obra leve e deliciosamente rica, cercada de conceitos ousados para o design de personagens e para invenções retrofuturistas. Espertamente, Lob também limita a adaptação a apenas quatro cantos da

Odisseia

, tornando a jornada de retorno do herói grego menos cansativa (quem leu Homero sabe o quanto) que o original. Assim, a adaptação resume-se aos episódios com o ciclope Polifemo (aqui vertido num robô de Netuno), à perseguição empreedida pelo deus dos ventos Éolo (um sujeito gordo que voa numa poltrona metálica estilo Charles Xavier – em forma de bunda), à estadia de Ulisses e seus marinheiros na ilha da feiticeira Circe (aqui, além de feiticeira, uma diva lisérgica, experimentadora de radicais modalidades sexuais e psicotrópicas) e ao do chamado das sereias em alto mar.

Atena: belezinha

Cada um destes episódios é contado com encanto próprio, em quadros grandes e dinâmicos, quase como numa HQ de Jack Kirby ou John Buscema, mas ao mesmo tempo privilegiando ângulos pouco convencionais dos personagens, transbordando volúpia, olhares desejosos, pequenas sacanagens. O que também salta aos olhos é a criação de um conceito visual muito próprio e bem-sucedido para cada um dos deuses. Zeus, por exemplo, veste uma espécie de colant que poderia pertencer à Legião dos Super-Heróis, com olhos compenetrados e barba escura, jovial. A deusa Atena, aliada de Ulisses, mistura sua forte presença com irresistível ingenuidade, o que a tornam a personagem mais sensual da HQ, usando um enlouquecedor “tomara-que-caia” às avessas (!). O deus Netuno é uma criatura reptiliana, paranoica e mau-humorada, com ares de cientista, sempre coberto totalmente por um escafandro grosseirão. Já Hermes, o mensageiro do Olimpo, parece um astronauta da era de ouro, não deixando de se lembrar os super-heróis (Flash e Mercúrio) inspirados nele próprio.

Trips

Para finalizar, vale um comentário sobre o episódio de Circe, que achei o mais interessante e perturbador. No texto homérico, Circe é uma semideusa frívola e voluntariosa que vive cercada de ninfas em uma ilha, aonde Ulisses e os marinheiros vão parar após um naufrágio. Lá, ela os seduz e os transforma em escravos (e porcos!) usando poderes mágicos, seduzindo o rei grego e provocando nele o ímpeto para realizar sua primeira traição a Penélope, a rainha que o aguarda há 10 anos em Ítaca. Pichard e Lob se aproveitam do óbvio potencial erótico e moral deste episódio para trazer cenas fortes de erotismo e repulsa (os marinheiros pensando que são porcos, comendo a própria merda, por exemplo). Circe e as ninfas são vertidas em devassas de índole libertária e quase sádica, valorizando um jogo S&M, lembrando muito os quadrinhos de Crepax. É excepcional a entrada de Ulisses no quarto dos prazeres de Circe (aqui, uma morena, sempre seminua, de olhar gótico e lábios carnudos), uma instalação meio

Mary Shelley

com

Russ Meyer

dedicada à experimentação com todo tipo de entorpecentes. Convencido a se drogar indefinidamente e alojado em outro

momentum

do tempo e do espaço, Ulisses fica no quarto pelo período de um ano, em intermináveis

trips

e orgias com Circe, até que desperta, resolve fugir e encontra seus marinheiros prontos para partir sem seu rei. O que se segue é um brutal

cold turkey

para o rei de Ítaca, em cenas macabras e psicopáticas que revelam o grau da abstinência que desaba sobre o herói.

Cold turkey

A graça deste episódio é que, por assustador que seja – Pichard desenha os quadros à maneira dos “

Fillmore Posters

” de Rick Griffin –, ele faz essa conexão bem sacada e maliciosa entre os ideais absolutamente não-puritanos dos gregos antigos e a ascensão da uma contracultura nos anos 60/70, da qual a

Métal Hurlant

acabou se tornando parte importante. Dispensando a obrigação de fazer

uma leitura muito densa e simbólica da obra de Homero

,

Ulysses

retrata o lado leviano e sarcástico, de ironia cruel, escondido sob as tradições de

pathos

e tragédia associadas aos gregos antigos. Esta operação, divertida e primorosa, de transformação do clássico em

cool

, fará com que a obra de Pichard e Loeb seja sempre revisitada, já que seus temas históricos e seus futurismos não têm lugar preciso na nossa realidade. Nem sempre é tão simples quanto parece criar um mito moderno a partir de um mito clássico, e essa obra tem o mérito de sintetizar, deliciosamente, duas épocas em uma só força narrativa .

Circe: encaras?

Uma mulher sem medo e as contradições de Frank Miller

por Pedro Brandt

Já foi mais fácil gostar de Frank Miller. Primeiramente porque seus quadrinhos já foram muito melhores. E, segundo, porque sua pessoa pública, ao menos no passado, parecia mais simpática. E mais coerente. Para alguém que se disse desiludido com Hollywood depois da experiência traumática que foi escrever o roteiro de Robocop II, Miller não parece ter se importado com princípios quando fez sua horrenda adaptação cinematográfica do Spirit – personagem de seu velho amigo Will Eisner que, morto em 2005, não teve o desgosto de ver sua criação massacrada na tela de cinema.

Recentemente, o americano escreveu em seu blog sobre o movimento Occupy. O teor do texto é tão reacionário que cabe a pergunta se Miller realmente pensa aquilo tudo ou se suas palavras apenas expressam a frustração do artista com as críticas negativas recebidas por seu mais novo trabalho, Holy terror.

O no mínimo controverso Holy Terror

O rancor do discurso de Miller parece ir de encontro a muitas coisas pelas quais ele já lutou e defendeu. Existe uma pouco lembrada HQ dele lançada pela Dark Horse em 1997 chamada Tales to Offend, uma provocação ao Comics Code Authority, o famoso selo que regulava o conteúdo que poderia ser publicado em um quadrinho americano mainstream. Em Tales, FM apresenta uma história do universo de Sin City (Daddy’s little girl, publicada no Brasil em 2001 em uma one show, da editora Pandora) e duas histórias do anti-herói Lance Blastoof, um mercador da morte que viaja pela galáxia fazendo negócios escusos, nunca se preocupando com quaisquer consequências. O engraçado é que no último quadro da última história, Blastoff diz ao leitor “Nunca deixe o Sr. Oportunidade passar por vocês, crianças!”

O mais legal disso tudo é que o texto de Frank Miller sobre o Occupy acabou repercutindo bastante, fazendo com que outros profissionais dos quadrinhos se manifestassem sobre o assunto – o que acabou gerando a circulação desse tema entre o público leitor de quadrinhos.

A roteirista Ann Nocenti, por exemplo, escreveu um texto no qual expressa sua opinião sobre o Occupy. Uma visão, aliás, totalmente oposta à de Miller. O texto pode ser lido no site Bleeding Coole é, na verdade, apenas um trecho de uma entrevista maior (ainda não publicada na íntegra) na qual ela fala de vários assuntos, entre eles o Occupy e seu futuro trabalho na revista Green Arrow (Arqueiro Verde).

Parte do discurso de Ann segue abaixo:

Ann Nocenti

“Muitas pessoas têm problemas para entender o movimento Occupy porque ele é algo muito novo. É descentralizado. Não é um movimento de ‘protesto’. É amorfo, como a Internet. É, de certa forma, um estilo de vida. É apoiado por trabalhadores sindicalizados, policiais simpáticos à causa, idosos, ricos, pobres, a direita, a esquerda... e, cada vez mais, até pelo ‘1%’. Ele cruza todas as linhas de classe, raça, gênero e política. É claro que as rádios de direita estão cheia desses descrições do Occupy – ‘crianças mimadas, bufões, ralé’, etc. – porque as pessoas temem o que não entendem".

Para Ann, o Occupy não significa estar vendado, mas tomar o controle da própria vida: “Que algo está errado com este país é inegável. Que os alunos se graduem em direito com uma enorme dívida e ainda assim não possam conseguir um emprego é simplesmente errado. Que bons planos de saúde só possam ser comprados pelos ricos é simplesmente errado. Que despejar dinheiro em guerras que não podemos ‘ganhar’ é simplesmente errado. Passei um tempo no país da al-Qaeda. Dólares abastecem tudo; acabam até financiamento quartéis do Talibã. Winston Churchill disse há muito tempo que ‘olhos ocidentais nunca vão entender os caminhos da cultura tribal’. A Guerra às Drogas (*o programa do governo americano War on Drugs), a última e inútil ‘guerra’ que levou nosso país à falência, foi recentemente declarada um fracasso absoluto.

“É muito fácil e preguiçoso demais apenas criticar o que o movimento Occupy está fazendo. É muito mais difícil apoiar e tentar entender que este é um símbolo de uma natural mudança radical em nossa sociedade”.

Mulher sem medo

Talvez os leitores estejam se perguntando “quem diabos é Ann Nocenti?”. Não lembro de nenhum trabalho dela recente (até porque, segundo o próprio Bleeding Cool, ela passou os últimos anos mais próxima de projetos sociais do que dos quadrinhos), mas algumas das HQ escritas pela americana têm lugar cativo na minha memória afetiva.

Uma delas, inclusive, faz de certa forma um link com esse assunto do Occupy. É a edição de número 252 da revista Daredevil, publicada nos Estados Unidos em 1987 e no Brasil em 1989, dentro da edição 82 de Superaventuras Marvel. Detalhe curioso: o gibi em questão tem 66 páginas e duas histórias, ambas com roteiro de Nocenti, a do Demolidor e uma protagonizada por Longshot, personagem criado por ela (e idealizado visualmente por Arthur Adams). Imagino que isso tenha sido uma coincidência. Mas gosto de pensar que foi uma espécie de homenagem da equipe de quadrinhos da Editora Abril ao trabalho de Ann Nocenti – que naquela época fazia um baita sucesso com o Homem Sem Medo ao lado do desenhista John Romita Jr. (e não esqueçamos do veterano Al Williamson, responsável pela arte final).

Outra curiosidade: a edição original, americana, fazia parte de uma saga chamada Queda dos mutantes, que, em 1989, ainda não tinha chegado ao Brasil. Por isso, as referências à saga (como uma breve aparição do Arcanjo) não aparecem em Superaventuras Marvel 82.

A ilustração da capa – com o Demolidor em plena ação, no alto de uma pilha de corpos desfalecidos (uma referência às famosas pinups de Frank Frazetta) - e as chamadas “Blecaute em Nova Iorque!” e “Caos nas ruas!” dão uma indicação do que é a história. Intitulada Ataque, a trama apresenta Matt Murdock (advogado cego, alterego do Demolidor) guiando uma comunidade carente da Cozinha do Inferno (o bairro onde ele cresceu) até um hospital em uma noite sem luz em Nova York. Já com o uniforme do Demolidor, o herói e a Viúva Negra partem para as ruas para tentar controlar o tumulto e, especialmente, os arruaceiros mais perigosos.

Ao medo das pessoas do escuro somam-se outros temores. Em tempos de Guerra Fria, um bombardeio nuclear talvez fosse o maior deles. Como seria o mundo em meio aos destroços, sem lei e ordem? Balaço, integrante da galeria de inimigos do Demolidor, sabe que seria a situação ideal para causar o caos e fazer valer a lei da violência. “Em breve a cidade estará a nossos pés”, acredita o vilão.

Tal qual Will Eisner nas histórias do Spirit, Nocenti preenche a sua com personagens coadjuvantes que ajudam a contextualizar o cenário e, claro, contar outros dramas além daqueles dos heróis. Caim, por exemplo, é um adolescente confuso, dividido entre seguir os passos de Matt Murdock ou uma vida marginal. Enquanto isso, um presidiário anônimo (sem ligação com o restante da história) escapa da delegacia mas revê suas posições quando encontra um bebê abandonado em uma lata de lixo.

Sejam eles coadjuvantes ou protagonistas, os personagens são embebidos de humanidade pela roteirista. Até o Demolidor chega a perder a paciência e passar uma descompostura em Caim.  No fundo de uma história cheia de ação, tensão, drama e paranoia, Ann Nocenti encontra espaço para mostrar o lado mais iluminado do ser humano, aquele que, em meio às adversidades, busca um objetivo maior, coletivo e solidário.

"Approved by the Comics Code Authority"

HQ em um quadro: Cebolinha ensina "the way of the macho", por Maurício de Sousa ©





















Cebola dá o fora na Mônica com a típica evasiva masculina (Maurício de Sousa ©, 2011): Dia desses estava no supermercado e, na fila do caixa, me deparei, já atrasado, com a famosa "HQ mais vendida nas américas em 2011". Peguei aquele gibi lacrado, com um desenho do "Cebola" e da Mônica dando um beijo não tão molhado assim (tão de lábios fechados, pô!) sob afrodisíaco luar, e vi o preço: R$ 6,90. Parecia razoável por "Turma da Mônica Jovem - em estilo mangá", já que o acabamento é cuidadoso e tem 130 páginas. Pensei que, pra dar uma detonada, é preciso ler o material, mas nem vale a pena (detonar). De fato, a qualidade como HQ (mesmo pra tweens) é duvidosa e tive muita dificuldade em ler até o final (quem me conhece sabe que sou tolerante), mas o projeto editorial é bem pensado, a mercantilização do negócio segue a tendência correta e, em certos momentos, há que se dar o braço a torcer. 

Porém, estes dois quadros aí de cima, fora de qualquer planejamento, corrompem a programática de previsibilidade capitalista do Maurição. Afinal, vamos pensar juntos: "Turma da Mônica Jovem - em estilo mangá" deve ser uma das coisas mais supostamente politicamente corretas no mercado editorial. Você abre uma página e já lê: "Uma nova aluna do Colégio do Limoeiro mostra que problemas com o peso podem não estar na balança, mas na cabeça..." - ora, pela silhueta da personagem, ela deve estar tendo problemas na cabeça sim, mas com a cabeça de baixo do namorado. Mesmo assim, tem essa coisa inclusiva de classe média culpada, procurando abrir portas pra uma juventude saudável e companheira, que vem nos assombrando desde a estreia de "Malhação". Apesar de uma "token" gordinha, todo o resto é um bando de gente bonita (quando vi o "Tonhão da rua de baixo" versão teen, fiquei de cara), tipo "geração Z, classe A-B". Não tem um flácido, um feioso, uma magrela, um zarolho... e não vi nem cheiro de um negro, um gay ou um maconheiro. O Cascão tem toda pinta de maloqueiro, mas mesmo assim é um recalcado e domesticado, e as garotas gostam dele mesmo fedido. O cadeirante da turma (token) também parece um modelinho teen, Bieber-like

Então, por quê este Cebolinha - ops, Cebola - mandando um "eu não menti, eu omiti" parece uma falha nesse sistema? Ora, eu acho que o roteirista em questão não se deu conta de que essa é uma bravata masculina que nos acompanha desde nefastos e machistas tempos arcaicos, significando que atos reprováveis do ponto de vista feminino tornam-se menos reprováveis quando, ao invés de revertê-los em inverdades, simplesmente os omitimos. Sair pra uma cervejada, pular a cerca, não discutir uma nova proposta de trabalho, ir no cinema sozinho, flertar pela internet, voltar a fumar escondido, etc, tudo se torna justificável por meio deste imenso guarda-chuva evasivo que é o "eu não menti, eu omiti". Essa é a verdadeira razão para caras sacanas e caladões parecerem tão atraentes no imaginário feminino: eles não podem dizer nenhuma de suas verdades escrotas, então omitem tudo. Depois disso, Mônica, ainda vai querer continuar com esse babaca? A história desse chiste editorial já dá a deixa: vai se dar mal. Tem que ver isso aê. (CIM)

O que são BDs? Um segundo corte – parte 1: O andarilho dos limbos






















por Ciro I. Marcondes

Dando sequência ao nosso altamente pessoal, idiossincrático e incompleto (reclamações e ausências são bem-vindas – na caixa de comentários) guia pra iniciantes em BDs, vou fazer um pulo ainda mais recortado para falar um pouco sobre um fenômeno que consumiu as HQs francobelgas nos anos 70 e se tornou influência maior para os quadrinhos adultos desde então. Aqui no Brasil, caras como Mozart Couto e Watson Portela rapidamente aderiram ao apelo sci-fi-erótico-lisérgico que o surgimento da revista (1975, França) Métal Hurlant disseminou no imaginário dos quadrinhos. A versão americana, Heavy Metal, (que sempre teve muito pouca relação com a equipe editorial que produzia a original francesa) acabou cristalizando o conceito e eternizando-o. Mesmo assim, esta mistura específica de subculturas pop é ainda signo de HQ europeia, e determina um ponto de virada retumbante na cultura da BD, engolfando outros países de língua latina, como Espanha e Portugal, definitivamente para dentro deste imaginário.

Mas em quê consiste? Bem, o recorte aqui será pontual e pessoal, podendo ser estendido ad infinitum, de acordo com a vontade deste resenhista de continuar escrevendo a respeito. A ideia de tragar as culturas sci-fi e de fantasia (sempre eminentemente britânicas e americanas – Júlio Verne e Georges Méliès à parte) para dentro do cânone dos quadrinhos nunca foi nova. Basta lembra Flash Gordon, Bucky Rogers, o próprio Superman (coisa derivada do sci-fi pulp em suas origens). O onírico/lisérgico já se anunciava desde os early comics, como comprovam Little Nemo, Félix, Mickey Mouse, etc. Além disso, evidentemente, a longa série de sci-fipulp da EC, qualquer coisa em Tintim, alguma coisa ainda em Mandrake, e até mesmo o Brasil entra no balaio com o sincretismo mecanoide que era Garra Cinzenta. Na Argentina, a partir de El eternauta, o gênero cria uma forte tradição.

Logicamente, tudo que ocorre nos anos 60 – direitos civis americanos, guerra do Vietnã, desbunde, flower power, panteras negras, maio de 68, summer of love, Bob Dylan, Beach Boys e Beatles, libertação da Argélia, descolonização da África, Che Guevara, crise dos mísseis, 2001, tropicalismo, feminismo, nouvelle vague, etc, etc, etc... – acaba por transformar (e transtornar) profundamente o artista dos anos 70, e creio que, nas HQs, Guido Crepax e sua Valentina acabam se tornando um paradigma para gerações de HQs europeias vindouras. Aquela coisa linda – belas, poderosas e libertárias mulheres; abuso de lisergia, drogas e psicodelia; as formas modernas de artes plásticas instiladas no conteúdo e na forma das HQ; e uma dose cavalar de mundos fantástico, sci-fi como leitura do mundo e influência do sonho e do delírio – se tornaria paradigma, ainda que, creio eu, poucos tenham chegado aos pés do mestre italiano.

Portanto, este é um mundo de vastidão cósmica e, no meu caso, vale mais fazer meu próprio guia do que sair por aí arrotando regras. Escrevo sobre quatro álbuns específicos que me impressionam, de autores fundamentais, em quatro posts, e defino aqui, agora, instantaneamente, os subgêneros que lhes cabem. Boa viagem intergaláctica!


1 -  Le vagabond des limbes (“O andarilho dos limbos”, de Christian Godard e Julio Ribera) e a space-opera interdimensional ou onírica: esta brilhante e longeva série francesa não é tão adulta quanto o material da Métal Hurlant. Surgiu nos anos 1970 pela tradicional editora Dargaud, e mistura fantasia científica (tipo Star Wars) com viagens astrais, outras dimensões e outros temas próprios ao campo do fantástico.


2 – Ulysses (de Georges Pichard e Jacques Lob) e a mitologia científica: clássico da Métal Hurlant dos anos 1970, adapta a coletânea de mitos gregos feita por Homero para um curioso contexto em que os deuses – absurdamente cativantes e sensuais – têm o domínio de tecnologias e culturas sci-fi.


3 – Escala em Pharagonescia (Moebius) e a ficção científica lisérgica: juntamente com o roteirista Jean-Pierre Dionet e o quadrinista Phillipe Druillet, Jean Giraud (é, o Moebius mesmo) foi fundador da Métal Hurlant e é até hoje o maior mestre nesta miscelânia. Esta história compõe, junto com a série A garagem hermética, sua obra-prima. Moebius, com sua visão espacial individual e irrepetível, faz da sci-fi esteira para um mundo onde tudo é possível, motivado por “visões”, experiências místicas e psicotrópicas.

4 – Yragael ou la fin des temps (“Yragael ou o fim dos tempos”, de Phillipe Druillet e Michel Demuth) e a fantasia científica filosófica: nesta obra maior e megalomaníaca de Druillet e Demuth, os quadrinhos se tornam grandes painéis sobre os temas mais ancestrais, as guerras mais arquetípicas, os renascimentos mais mitológicos. 


1: O andarilho dos limbos – Os demônios do tempo imóvel (Christian Godard e Julio Ribera)

Novamente de volta aos bons anos 90 (segunda metade), cheguei a escrever uma boa quantidade de contos (pelo menos uns 20) baseados em um universo de ficção científica que eu mesmo criara (devo confessar que para jogos de RPG) – hoje tudo ilegível, salvo um conto e um outro incompleto, escrito já na fase “adulta”. Como jovem estudante de literatura e ávido devorador de Dostoievsky, Machado, Rosa, Kafka, Shakespeare e os gregos todos, podia parecer ainda estranha minha contínua adesão à literatura de ficção-científica (favoritos: Heinlein, Clarke, Silverberg), que certamente nutre alguma pobreza estilística (foda dizer, mas é verdade), mas compensa muito nos sistemas criativos, em alegorias intrigantes, em aventuras e mundos inesquecíveis. É este último nicho que engloba a space-opera, derivação bem pop do sci-fi que mistura geralmente universos vastos, incluindo muitos planetas e até galáxias (por abstruso que possa parecer, à luz da física atual, viajar de uma galáxia pra outra), polícias espaciais, impérios estelares, raças exóticas, culturas diversas alienígenas e quase sempre um twist de fantasia, preservando a beleza do inexplicado num mundo “cientificamente” dominado. Star wars acabou se tornando a mais famosa space-opera.

Meus contos se desenhavam num conceito como esse, em que a humanidade, viajando pelo universo havia milhões de anos, encontra um sistema de planetas perfeitamente harmônico, socialmente e evolutivamente controlado por seus habitantes, altamente receptivo a visitantes longínquos. A gente chega lá e esculhamba com tudo, mas não é isso que quero dizer. Quero apenas lembrar meu fascínio pelo conceito do space-opera. Sua gama de combinações e possibilidades, sempre aberto à invenção; sua licença poética para não se preocupar (muito) com a coerência científica; seu namoro com a fantasia. É por isso que, antes de passar propriamente às HQs que possuem relação com o mundo da Métal Hurlant, resolvi falar sobre esta série infanto-juvenil (?) escrita pelo mestre Christian Godard (sem relação com Jean-Luc) e ilustrada no traço muito requintado de Julio Ribera. O andarilho dos limbos começou a ser publicado pela clássica editora belga Dargoud em 1975 e até hoje mantém certa regularidade, tanto no título principal quanto com spin-offs. É uma das mais longevas e melhores séries de Ficção-Científica em HQ e chegou a ser lançada em Portugal como O vagabundo dos limbos (cabe uma tradução do título para o português brasileiro) primeiro pela Livraria Bertrand e depois pela Meribérica-Liber.

Apesar de não ser tão chegada aos excessos de sexo, filosofia e lisergia que caracterizaram a geração da Métal Hurlant, O andarilho dos limbos fez parte da ascensão deste então novo gênero das BDs que valorizaremos neste corte. Mesmo assim, não é uma HQ pudica e busca lindo equilíbrio entre um imaginário infanto-juvenil (tipo Salgari, Stevenson, Swift, etc.) e uma possibilidade de leitura adulta. O álbum que comento aqui, Os demônios do tempo imóvel (Les demons du temps immobile) foi publicado em 78 e é um dos mais líricos da série. O herói em questão é Axle Munshine, espécie de Flash Gordon sagitariano, antigo conciliador (portanto, embaixador e explorador) da Guilda galáctica que acaba se tornando foragido e pária. Axle então viaja através do cosmos em sua nave (hoje kitsch), o Golfinho de prata (ah! Os anos 70...), juntamente com seu sidekick andrógino Musky, um menino(a) preso na idade 13 anos (há 300 anos), física e mentalmente. O motivo do banimento de Axle é sua persistência em invadir o mundo dos sonhos (que, segundo o mote geral da série, deve se manter separado) para buscar uma figura hipnótica e irresistível, uma beldade loira convenientemente apelidada “Quimera”, levando-o constantemente à fronteira entre o real e a fantasia. Axl é irascível e fatal como um Príncipe Valente, mas ao mesmo tempo obstinado e enlouquecidamente apaixonado, como um Dom Quixote.


Kanybs: belas almôndegas
 Em Os demônios dos tempos imóveis, três aspectos me chamam a atenção. Primeiramente, no arco que inicia a história, o respeito à criação de culturas alienígenas sem o propósito de vincular isso necessariamente ao desenrolar da trama em si. Axle e Musky desembarcam em Omphale, “o planeta dos tempos imóveis”, supostamente perigoso porque não vinculado à Guilda, e lá se deparam com uma paisagem vulcânica, cheia de cavernas e gêiseres, habitada por estranha espécie, os Kanybs. Diante dos medos e boatos que Musky faz questão de informar ao leitor (“famosos por não obederecerem às leis da Guilda e pela prática do canibalismo”), Godard procura elaborar uma pequena “antropologia” como exemplo de criatividade em space-opera. Os Kanybs são criaturas quase ovais (ótimo design), como que feitos de pedra (tipo trolls), com olhos grandes e profundos, e que vivem em um andamento lento, praticamente incomunicáveis.

Deparamo-nos, então, com uma fêmea (bem peituda) desligada do resto do clã, diante da carcaça de um macho morto. Logo descobrimos que as fêmeas grávidas são afastadas do grupo para devorar as carcaças dos mais velhos do clã, gestando o bebê para morrerem logo após o parto. Essa caracterização cultural dos aliens (claramente baseada em culturas indígenas) está longe dos requintes de detalhamento de um Gods themselves (Asimov - leia), mas a antropomorfização não chega a ser um problema especialmente se considerarmos que todo mote da série alegoriza uma exploração da vastidão interior humana, além de sua diversidade.

Assim, o prosseguimento da história nos leva a um segundo atravessamento que chama a atenção: Axle e Musky entram em uma caverna e se encontram com o xamã espiritual e governante dos Kanybs, o único capaz de falar a língua geral. Cobrando um antigo favor, Axle insiste ao xamã que o deixe adentrar num certo “labirinto dos três monarcas”, uma espécie de portal interdimensional que o levará a um universo de tempo estático e transversal, arriscando ter sua consciência aprisionada e seu corpo esvaziado. Este arco concentra quase todo o volume da história, e nos revela o grau de obstinação de Axle para encontrar sua Quimera, ao mesmo tempo em que, no timing da HQ de aventura, precisa enfrentar seus próprios “demônios” (enriquecendo o trocadilho do título, certo? Os demônios, afinal, não eram os Kanybs).

Esta passagem nos permite visualizar melhor todo o potencial de ilustração de Ribera, de traço fino e claro, usando linda paleta de cores frias, baseada em um estilo sci-fi de realismo clássico, mas com toda a deferência associada à cultura das BDs: sombreamentos quase obsessivos, planos distantes detalhados em minúcias e intensa imersão na concepção de cenários exóticos e verossímeis. Os “três monarcas” com que Axle se defrontará no labirinto são nada menos que três versões dele mesmo: uma, envelhecida e amarga, sem sua Quimera, rei de um mundo mortos-vivos; outro, um jovem petulante e excessivo, trivial e leviano; e por fim uma criança assustada, guardiã obcecada de uma loira linda e espectral, cercado por um exército de brinquedos. A variação onírica dos cenários permite a Ribera recriar a HQ na própria maleabilidade do universo dos sonhos, deixando sua atmosfera tenebrosa e fantasmagórica no primeiro monarca, psicodélica e bucólica no segundo, e neurótica, muito surreal, no terceiro.


Quimera: loiraça
A busca por si mesmo acaba nos levando a uma terceira grande sacada deste álbum, que é a busca do herói por sua identidade temporal (nesse mesmo sentido, sempre vale ler a excelente história “Futuro imperfeito”, do Hulk de Peter David) enquanto desdobramento de sua busca por uma certa “Quimera”, idealizada, fantasmagórica, muda, e que nunca chega. Não custa aproximar essa relação da obsessão com a fantasia erótica e o sonho tanto com Little Nemo de McCay, que desperta a cada vez que seu sonho se aproxima de uma resolução, quanto com o famoso mito grego de Sísifo, que tem a pedra que carrega pela montanha derrubada sempre que se aproxima de seu destino final. Axle Munshine (como o nome diz), está em uma linhagem mais lunar de heróis românticos, influenciado pela tradição americana, mas subvertendo-a no sentido de que problematiza sua própria existência a partir de sua obsessão erótica e romântica, colocando-a acima da justiça e do “bem”. Pode-se ver que O andarilho dos limbos é um exemplo ideal para se argumentar que, na boa ficção científica, a viagem pela vastidão do cosmos é uma imagem para uma viagem pela vastidão de nós mesmos.

Próximo da série: Ulysses, de Georges Pichard e Jacques Lob.

            
A linda arte de Julio Ribera

Pequeno guia Raio Laser para os webcomics






















Dois fenômenos interessantes se agregam neste post. Primeiro, o enfoque nos webcomics, um interesse meu já com certo tempo, mas que não tive tempo de desenvolver autonomamente. Se há algo que, dentro da ideia de "quadrinhos além", pode se inventariar para uma transformação do meio das HQs e gerar formas de expressão híbridas, isso já está expresso no presente dos webcomics. O que nos leva ao segundo fenômeno auspicioso: a estreia do nosso querido leitor, consumidor apaixonado e dedicado de todo espectro de atuação dos quadrinhos, o jovem ilustrador Thales Lira. Como eu sabia que, além de pegada como arqueólogo das HQs, ele curtia explorar este ambiente inovador dos webcomics, convidei-o, após ler textos seus de boa qualidade, para escrever este pequeno guia para nós. Também conferi tudo que ele indicou e acho que vale um baita debate lá caixa de mensagens. Thales está para se formar em artes visuais na Unicamp e agora cabe decidir o que pode impulsioná-lo mais: se a teoria ou a prática. Greetings! (CIM)

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por Thales Lira

Falar de webcomics hoje está longe de ser algo inovador, já que diversos artistas serializam e publicam trabalhos na internet, chegando a ser quase uma norma para qualquer aspirante a quadrinista: “Tenha um site, gera conteúdo, atraia pessoas para o seu trabalho” seria a regra não-escrita.

Desde que Scott Mcloud apontou para as possibilidades da web no desenvolvimento das histórias em quadrinhos, diversos autores já se aventuram nesse terreno. Alguns usando como uma extensão das formas tradicionais como serialização de tiras, algo típico de jornais, outros explorando as possibilidades do meio, como a famigerada tela infinita, uso de imagens já prontas (clip-art, os “memes”) e alguns casos até animação.

O que se pretende aqui é fazer algumas indicações de webcomics que considero interessantes no momento. Como todo apontamento, ela está sujeita a gostos pessoais, fenômenos astrológicos e desvios de caráter, portanto nunca dará conta de toda extensão e diversidade que figura na rede. Vamos então às indicações, em uma ordem arbitrária sem hierarquia de valor:


Hark! A Vagrant! - Kate Beaton:  Apesar do tema de sua série ser algo que muitos considerariam de nicho - humor geralmente com base histórica ou de personagens literários - a abordagem de Kate consegue fazer rir sem precisar ter diploma em História. Recentemente compilada num volume pela Draw & Quarterly, sua obra apresenta uma interessante justaposição de diálogos modernos (geralmente falas de um jovem suburbano norte-americano) com figuras de um passado já distante. Esse anacronismo é realçado pelo seu traço que ecoa ilustradores da virada do século passado, mas por um viés mais cartunesco, quase rascunhos. Tudo isso pode parecer formulaico num tempo em que é comum ver mashups dos mais díspares (Orgulho e Preconceito e Zumbis me vem à mente), mas a obra de Kate se destaca por permanecer fiel até certo ponto às suas fontes históricas e não cair no mero pastiche pop. 

Emily Carrol: Emily, assim como Kate, demonstra influências de ilustradores no seu trabalho, mas, em seu caso, isso deriva mais do fato de a ilustração ser sua fonte primária de trabalho. Tendo começado recentemente a publicar suas HQs online (os primeiros trabalhos datam de 2010), sua obras vêm sido recebidas com entusiasmo pela comunidade online. Geralmente suas histórias se ambientam no passado, trazendo os perigos e o terror que tempos antigos evocam. Emily também se utiliza do formato da imagem na web e suas possibilidades (links e imagens que se podem se deslocar tanto verticalmente quanto horizontalmente) para potencializar suas narrativas. Destaque para suas histórias The Prince & The Sea, His Face All Red e Margot's room

2001 - Blaise Larmee: Uma das figuras mais controversas do cenário alternativo norteamericano atual, Blaise parece operar com mais proximidade com o mundo das artes visuais do que com o mercado de HQs. O modus operandi de Larmee pode ser visto como uma forma conceitual de fazer quadrinhos, disposto a alargar conceitos de maneira análoga aos artistas da década de 60/70. 2001, sua webcomic, parece não negar sua condição de imagem virtual num meio virtual. Os personagens interagem num fundo extremamente minimalista que muda gradualmente no decorrer da história (que é condicionada pela barra de rolagem), suas falas são representadas em uma fonte claramente inspirada nas primeiras usadas em computação. Em certo ponto, um dos personagens chega a dizer: é esse o seu espaço? Isso parece ser o ponto central na obra: como narrar uma história virtual em um ambiente virtual. 


What Things Do: “Nós queremos ler quadrinhos, bons quadrinhos, muitos deles e todo tempo” escreve Jordan Crane na descrição do seu site. What Things Do compila diversos trabalhos, de um grupo seleto de artistas alternativos norteamericanos, trazendo obras antigas, inéditas e algumas serializações. Dentre as HQs disponíveis, merece destaque a obra de Michael Deforge (situações surreais, horror, tentáculos e muitas secreções), a série Barack Hussein Obama de Steve Weissman (aventuras bizarras do atual presidente dos EUA) e The clouds above, do próprio Jordan Crane, que já foi editada em livro pela Fantagraphics e se adequou muito bem ao formato de leitura vertical.

Electrocomics: Criado pela artista Ulli Lust, que visitou recentemente o Brasil na RioComicon, Eletrocomics funciona com uma plataforma para publicação de ebooks, todos disponíveis de forma gratuita e mantidos por meio de doações.  O site possui um rol de artistas internacionais variado (grande parte europeu) com destaques para as obras de Olivier Schrauwen (editado este ano pela Fantagraphics), Amanda Vähämäki, Frédéric Coche e da idealizadora Ulli Lust (que possui disponível a serialização do Today is the last day of  your life, ganhadora do prêmio revelação em Angoulême).


Forming Jesse Moynihan: A vida na Terra começou com um alien rebelde que decidiu tomar o planeta como seu, contrariando as ordens que lhe foram designadas. Com o tempo sua família cresce e conflitos nascem entre os seus descendentes, antigos empregadores, os habitantes originais e entidades de outros planos. Esse é uma parte do enredo da webcomic criada por Jesse, que vem sendo serializada desde 2009 e esse ano ganhou uma compilação pela editora britânica Nobrow. Com um traço que lembra a linha clara francesa com um esquema de cores vivo e berrante aliado a um humor às vezes absurdo, a obra de Jesse segue como umas das séries mais estranhas e fascinantes de se acompanhar na rede. 

Como dito anteriormente, essas escolhas dificilmente encompassam toda a diversidade do ambiente virtual. Inúmeros trabalhos extremamente interessantes como as serializações no site do IG, os trabalhos de Ryot, ou 2101,de Jason Overby, poderiam figurar na lista acima. E, para os interessados em se aprofundar na história dos webcomics, recomendo a coluna No One Knows You’re A Dog (uma referência a um famoso cartum da New Yorker que diz que, na Internet, ninguém sabe que você é um cachorro) do Comics Journal, que possuiu bastante material historiográfico e boas recomendações.

Aura de Eisner





















Estive em São Paulo recentemente, mas a passagem foi muito curta (apenas uma segunda-feira, praticamente). Logo após sair de um importante compromisso, queria voar até o Centro Cultural São Paulo para ver esta exuberante exposição de Will Eisner e escrever algo aqui para a RL. Bem, segunda-feira os museus fecham e fiquei na mão. Ainda bem que essa figura de impressionante solidez intelectual e artística que é Lima Neto foi e executou, com primor, a minha intenção, para a página da Kingdom Comics. Ele liberou o texto pra gente. Salve! De minha parte, apenas uma modesta contribuição: estou disponibilizando o arquivo de power point (aqui!) sobre Will Eisner que usei para aulas de História e narrativa de Quadrinhos na Universidade de Brasília (Valeu Lima! - CIM).
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por Lima Neto
fotos de Rafael Felix

Se você é assíduo leitor deste blog já deve saber do que é feito uma boa História em Quadrinhos. Aquela mistura mágica entre narrativa gráfica e ou texto, uma arte fluida e convincente e aquela habilidade cada vez mais rara de saber como contar uma história. Se esta definição lhe traz o nome de Will Eisner à mente, então você precisa ir urgentemente à exposição “O espírito vivo de Will Eisner” que está rolando no Espaço Cultural São Paulo, ou torcer para que ela visite sua cidade. Mas, para apreciar a beleza desta exposição é preciso que deixemos todas essas qualidades citadas acima de lado, o tipo de magia que se pode experimentar na mostra é de um tipo bem diferente e secular.


Antes de explicarmos a aparentemente paradoxal afirmação acima, vamos nos recordar que as Histórias em Quadrinhos como conhecemos hoje é fruto de uma necessidade comercial nascida da imprensa do começo do século XX com as possibilidades tecnológicas de reprodução das imagens que começaram um vertiginoso avanço com a invenção da fotografia. O surgimento destas tecnologias também foram responsáveis pela mudança no paradigma das artes plásticas, que, colocando de maneira bem simples, deixaram de lado a representação da realidade após perceberem a extrema eficiência com que as fotografias realizavam essa função e passaram a explorar questões mais abstratas e conceituais do fazer artístico. O crítico Walter Benjamin discute amplamente o impacto das novas tecnologias na arte em um texto seminal intitulado “A obra de Arte na época de sua reprodutibilidade técnica”. Neste estudo, ele afirma que esta mudança radical da arte é decorrente da morte da “aura” – uma qualidade específica das obras de arte que está ligada à sua existência real na história e só pode ser sentida na presença da obra original – mas, com as possibilidades de reprodução que começaram a se desenvolver, esta aura já não fazia mais sentido. Dos escombros da arte tradicional, nasceram as HQ’s.

E o que isto tem a ver com a exposição “O espírito vivo de Will Eisner”? Ao entrar na galeria, previamente sinalizada com dezenas de banners com imagens clássicas de Graphic Novels de Eisner e de seu mais famoso personagem, o Spirit, pode-se perceber que se você quer ler um bom quadrinho, o melhor lugar é na sua casa sentando confortavelmente acompanhando de uma boa xícara de café. O que está sendo mostrado na galeria montada na Gibiteca Henfil no Centro Cultural São Paulo, mesmo sendo páginas de HQ, exala uma qualidade única, tocante, fantasmagórica e poderosíssima – uma aura, digna das pinturas mais clássicas da história da arte!

A mostra é recheada de páginas originais de quadrinhos, abrindo com belíssimas artes de Contrato com Deus, passando pelos traços paranóicos de Um Sinal do Espaço, pelo colorido etéreo de O último Cavaleiro Andante e através dos quadros/quartos de Avenida Dropsie. Estão presentes ainda os aguados de nanquim de Fagin o Judeu e muito mais páginas de várias outras Graphic Novels que dão forma à primeira parte da curadoria. A segunda parte é focada no Spirit e segue com mais páginas impressionantes diretamente dos anos 40. Separando as duas alas está uma mesa-painel com objetos pessoais do artista, como seus famosos óculos e cachimbo, esboços, quadrinhos raros e quinquilharias temáticas. Na ala de Spirit podemos ver ainda ilustrações do autor, inacreditáveis originais de capas clássicas de Spirit e reproduções em Silk Screen. Fechando a exposição há ainda uma ala separada construída com uma cenografia toda especial representando o cemitério Wild Wood (onde supostamente está enterrado o corpo de Danny Colt), onde podem ser vistas raríssimas peças como uma estatueta original produzida por Eisner em conjunto com o artista plástico Peter Poplasky representando o justiceiro de Central City em toda sua força. Mais belo ainda é o quadro de Spirit pintado em tinta acrílica sobre papel de pão que iria servir como design para uma tapeçaria encomendada pela esposa de Eisner.

Porém, nem esta narração da mostra, tampouco as fotos abaixo, são capazes de expressar o forte sentimento que pode se sentir ao observar a belíssima exposição. Ao olhar atentamente as artes originais, apreciar os traços firmes e expressivos, observar as camadas de nanquim e a maneira precisa com que se acumulam e se dispersam dando vida às sombras dos cortiços da Nova Yorque de Eisner e a saborosa ilusão causada pelas pinceladas de branco contrastando com os tons escuros, pode-se desconstruir os desenhos, refazendo cada passo em um processo impressionante que nos leva ao lápis, do lápis à folha em branco, e da folha em branco diretamente para dentro da cabeça deste que foi um dos maiores gênios do século XX. Neste momento abro mão da impessoalidade do texto jornalístico para escrever aqui um relato sincero. Nos mais de 10 anos estudando arte, e dos 30 anos em contato com quadrinhos, nunca pude me deparar com o fenômeno da aura artística. A razão é óbvia. Nunca tendo visto uma obra clássica do calibre de um Velásquez, por exemplo, de perto, nunca pude experimentar esta sensação atemporal de desconstrução que pode nos transportar à presença quase tangível do artista. Se as histórias em quadrinhos, como uma mídia do século XX, não gera tal sensação, ou gera um outro tipo de sensação específica que ainda carece de estudos mais aprofundados, a obra viva de Eisner transborda desse sentir. A cada painel, cada pincelada, cada estratégia percebida para compor as páginas de seu quadrinho, podemos sentir, como que olhando por cima de nossos ombros, a presença de Eisner.



Termino parabenizando a equipe responsável pela mostra (especialmente o belíssimo trabalho de iluminação de Marisa Furtado e Tadeu), pois através dela pude realmente descobrir e experimentar o que é a Aura artística de Benjamim, ainda mais emanando de uma exposição que, embora não sendo uma história em quadrinho em si, expõe o seu corpo irreprodutível. Se, ao ler uma Graphic Novel de Eisner, podemos experimentar o seu pensamento, sua filosofia, sua maneira de ver o mundo, ao ver seu traço exposto, seu trabalho braçal de desenho, podemos sentir uma corporeidade fantasmagórica. Como olhar para um corpo, mas não um corpo morto, sem vida. E sim um corpo vivo, ativo e animado pelo encontro dinâmico do observador com a obra. Se algum quadrinho de Eisner já lhe tocou em algum momento, caro leitor, então arranje um jeito de ver esta exposição!

Confira abaixo as fotos da cobertura exclusiva Kingdom Comics (a agora Raio Laser!) e também um vídeo feito pelo mestre Evandro, do blog Esfolando, onde o dono da maioria do acervo da exposição, Denis Kitchen - da editora Kitchen Sink, faz um tour especial pela versão carioca da mostra que rolou na Rio Comicon!

A mostra está ficará em São Paulo até 18 de Dezembro, então ainda dá tempo de conferir! (Valeu James!)





































A Bolha Editora: relação visceral





















 por Pedro Brandt

Insatisfeita com o que considera mesmice, falta de ousadia do mercado editorial brasileiro, Rachel Gontijo Araújo resolveu publicar ela mesma os livros de que gosta. Para a empreitada, não poderia ter escolhido nome mais apropriado. A Bolha Editora começou a atuar este ano e já nos primeiros títulos deixou clara sua proposta.

Vá para o diabo, do argentino Federico Lamas, por exemplo, apenas parece um caderninho do tipo moleskine repleto de ilustrações. Mas visto com o auxílio de um visor que acompanha a publicação (chamado de visão infernal), os desenhos revelam segredos (escabrosos e divertidos), e mostram o que, a olho nu, o leitor não consegue perceber.


A celebração, do moçambicano Rui Tenereiro, Powr mastrs vol.1, de Christopher “CF” Forgues e 0-800-Ratos, de Matthew Thurber, ambos americanos, são histórias em quadrinhos com artes e tramas pouco convencionais. Seu corpo figurado, de Douglas A. Martin (com tradução do escritor gaúcho Daniel Galera) é o primeiro lançamento da coleção Just a Bubble (dedicada à prosa) e apresenta uma análise dos trabalhos dos pintores Balthus e Francis Bacon, e do poeta Hart Crane. Até o final do mês, mais dois livros da coleção serão lançados (em coedição com a editora Autêntica).

Rachel conta que, por enquanto, o retorno que A Bolha vem recebendo chega mais na forma de reconhecimento pela iniciativa do que em número de vendas. Ainda assim, a receita geradas pelos livros tem lhe dado condições de pagar algumas das contas da editora e acreditar em seu futuro. A Bolha, afirma a editora, é um projeto de vida.

Antes de começar A Bolha, esta brasiliense de 33 anos estava nos Estados Unidos, terminando um mestrado no Instituto de Arte de Chicago e dando aulas na Universidade de Columbia. “Escrevendo e passando frio”, ela lembra sobre estes anos que foram fundamentais para sua formação e na decisão de montar a editora. Antes disso, na Universidade de Brasília, ela fez mestrado em filosofia (curso que estudou na França) e, na cidade, trabalhou como editora assistente na Unesco. De volta ao Brasil, Rachel escolheu o Rio de Janeiro para morar. Lá, montou a sede d’A Bolha, no terraço do prédio onde funcionava a fábrica de chocolates Bhering. É onde vende os livros de sua editora e diversas outras publicações nacionais e importadas, todas de artistas com afinidades com a proposta da Bolha.

Linguagem como corpo

A Bolha, nas palavras de Rachel, busca trabalhos de investigação estética quase marginais, malcomportadas. A escolha deles, ela diz, é estritamente pessoal. “Não existe curadoria que não seja pessoal e, se existe, não me interessa. Eu gosto do trabalho e publico. Pode até parecer ingênuo, mas não acredito em nenhum outro tipo de escolha editorial. Acho que esse negócio do ‘gostar’ nas artes tem menos porquês do que geralmente se imagina. É visceral. Tem que ser, se não, qual a graça?”, explicita Rachel. “Eu gosto de artistas e de escritores que arriscam a própria linguagem como corpo. Eu acredito muito no que a Hilda Hilst dizia, que ‘a carne é que sente’. Eu gosto de artistas que não têm medo da própria carne”.

E por falar em Hilst, em 2012, A Bolha publicará nos Estados Unidos (em parceria com a Nightboat Books, de Nova York), A obscena senhora D, célebre romance da escritora paulistana. “O segundo titulo de Hilda, Cartas de um sedutor, ainda está sendo traduzido e só deve ser lançado em 2013. E Fluxo-floema, em 2014”, adianta Rachel.



A Bolha Editora

Lançamentos: 0-800-Ratos, de Matthew Thurber, 24 páginas, R$ 12; A celebração, de Rui Tenereiro, 108 páginas, R$ 39; Powr mastrs vol.1, de Christopher “CF” Forgues, 120 páginas, R$ 36; Seu corpo figurado, de Douglas A. Martin, 148 páginas, R$ 34 e Vá para o diabo, de Federico Lamas, 52 páginas, R$ 35. Informações: www.abolhaeditora.com.br.





Entrevista com Rachel Gontijo

Você é brasiliense. Como a cidade te influenciou no gosto pelas artes?
Sim, eu nasci em Belo Horizonte, mas sou brasiliense. Demorei muito tempo para me sentir confortável suficiente na minha relação com Brasília para poder afirmar isso. Não tem como um lugar onde se vive tanto tempo não influenciar de alguma forma. Mas para ser sincera, acho que Brasília me influenciou pelas próprias limitacões — da cidade e das minhas limitações em relação à cidade. Aqui se vive numa espécie de estética da imposição e/ou imposição estética. E são justamente esses movimentos de imposição que não me interessam nas artes, e que tento combater diariamente, tanto no meu trabalho de editora como na minha própria escrita.

Como tem sido o contato com as editoras estrangeiras? E o que é mais difícil nessas negociações?
Meu contato é quase que só diretamente com autores. Eles apostam em mim e eu neles. Foi assim em todos os casos. Tanto com Nathanel, Douglas A. Martin, Gail Scott, Bhanu Kapil, como com Federico Lamas, Rui Tenreiro, Marc Bell, Heather Benjamim, Christopher Forgues e Matthew Thurber. O que faz todo processo ser muito mais prazeroso. É realmente uma parceria. Mesmo no caso da Picturebox, liderada pelo grande Dan Nadel (editor do Thurber e Christopher “CF” Forgues), a relação acaba sendo direta com os autores. Mais difícil e desinteressante é a negociação com agentes. É um diálogo, na grande maioria das vezes, baseado em números, seco. Então tento evitar.

Você vai lançar livros da Hilda Hilst nos Estados Unidos. Come você percebe o interesse de literatura latinoamericana por lá?
Eu não acho que tenho conhecimento suficiente para falar sobre o interesse na literatura latinoamericana como um todo (na América do Norte). Confesso que tenho uma certa dificuldade com esse termo, “latinoamericano”, até pelo próprio entendimento norteamericano do que vem a ser América Latina e o latinoamericano, o que acaba quase por se transformar numa categorização. O que posso dizer é que muito pouco se conhece da literatura brasileira por lá. Não tenho medo nenhum em afirmar que a literatura brasileira, infelizmente, é inexistente na América do Norte. A verdade é que, tirando alguns poucos, sempre mencionados autores brasileiros, somos quase que invisíveis no norte. Mas acredito sim que hoje se tem mais espaço para se mudar essa realidade, para que o norteamericano se deixe ser mais curioso em relação a outras linguagens. E não acredito em melhor abre-alas que Hilda Hilst para forçar ainda mais essa abertura.

Como foi o seu contato com essa produção mais alternativa de quadrinhos?
Eu comecei a prestar mais atenção — pelo menos com mais consciência — em quadrinhos quando estava indo embora de Chicago (2009) e me preparava para fazer uma viagem de trem com a artista Stephanie Suaer, de Chicago para Sacramento, Califórnia. A viagem duraria dois dias. E me lembro que nós passamos na Quimby’s e eu comprei uma série de livros, incluindo A drifting life (do Yoshihiro Tatsumi). Até então minha interação mais direta com narrativas se dava, pelo menos de maneira mais linear, pela escrita. Não acho que li um só quadrinho nessa viagem, mas logo depois quando voltei ao Brasil devorei um atrás do outro e continuei a pesquisar, ler, ler e pesquisar, e fiquei impressionada com as possibilidades de linguagem que a narrativa visual traz. Logo depois, durante uma residência artística em Nova York, comecei a pesquisar mais a fundo e fui encontrando uma série de trabalhos extraordinários. Eu sempre gostei muito de pesquisar, cavucar. Me ajuda a prestar menos atenção à insônia.

E os interessados em entrar para o catálogo da Bolha, como fazem?
No momento, como sou só eu tocando o projeto, e temos uma série de outros livros já programados para publicação, não estou podendo aceitar originais para avaliação. Mas espero em breve poder começar a receber originais, dar a devida atenção a novas possibilidades de publicação. E quem sabe contar também com apoio de outras editoras (leia-se: coedições).


Quem você gostaria de ver publicado pela Bolha (brasileiro e estrangeiro)?
Leando Mello, Mark Beyer, Virgilio Neto, Seth, Maura Lopes Cançado, Suzanne Jacob, John Keene, Claude Cahun. Mais Bhanu Kapil, mais Nathanel, mais Douglas A. Martin. A lista é grande e continua crescendo.

O leitor brasileiro é careta? Ou desinformado? Ou, pior ainda, desinteressado?
Eu acho que algumas editoras brasileiras é que são caretas e não têm o devido respeito, não dão o devido crédito ao leitor brasileiro.

Você já publicou alguma coisa sua? O quê?
Sim, tenho algumas partes de um manuscrito (primary anatomy) ainda em progresso em alguns jornais literários norteamericanos e algumas outras partes desse mesmo manuscrito que serão publicadas em 2012 na Mandorla (setembro) e na Evening Will Come (fevereiro). Espero poder finalizar esse manuscrito até o começo do ano que vem, mas ter tempo para me permitir escrever tem sido difícil.