O que são BDs? Pt. 1

por Ciro I. Marcondes

BD (bedê) vem da designação francesa bande desinée (“banda desenhada”, como se diz em Portugal, ou simplesmente uma “tira desenhada”). Graças a um domínio bastante substancioso do quadrinho de língua francesa na produção europeia, é comum que praticamente toda produção do continente esteja relacionada ao universo das BDs. De uma forma metonímica, pode-se dizer que a HQ europeia, ou no mínimo a brilhante produção franco-belga, se identifica com as origens da BD. Isso não lima a importância de outras manifestações quadrinísticas da cultura europeia, como os fumetti (quadrinho de banca italiano), por exemplo, ou as origens do quadrinho de tabloide britânico, que se confude com as próprias origens das HQs. Além disso, estamos fazendo aqui um corte bastante específico, de BDs que se originam a partir de Tintim, assemelhados especialmente pelo traço, cartunesco, e por uma imersão inteligente no mundo adulto a partir de situações que fazem fronteira clara com o exagero, a fantasia, a história, a aventura, enfim, um universo próprio, fundamentado em narrativas simples, mas em geral elegantes e de plena consciência e domínio sobre as possibilidades expressivas dos quadrinhos. Os quadrinhos europeus são incrivelmente vastos e especializados, e se proliferam em culturas nas quais esta forma de expressão há muitas décadas deixou de ser um entretenimento infantil. Logicamente, a revolução que parte da revista Metal hurlant e todo um aprofundamento no campo da fantasia, erotismo e ficção científica merece um tópico à parte. Assim como o quadrinho experimental, o faroeste, as histórias de piratas, o noir europeu, entre tantos outros gêneros importantes.

1 - TINTIM (Tintin): Hergé

Por vezes, é comum que se façam ressalvas a Hergé (Rémi, Georges – RG) por conta de algum conteudo enviesadamente político ou colonialista – digamos, não antropologicamente correto segundo os padrões de hoje – em alguns de seus primeiros álbuns. Bem, temos de relativizar isso, logicamente. Hergé começou a escrever sua obra-prima Tintim ainda nos anos 20, quando a antropologia americana (de Ruth Benedict e Margaret Mead, mulheres formidáveis), essa que nos ensinou a relatividade cultural, estava ainda em seus passos iniciais. Fôssemos pensar assim, teríamos de proibir da leitura de autores como Herbert Spencer ou Monteiro Lobato.

A questão é que uma HQ como Tintim (tantan, na pronúncia francesa), que teve seu derradeiro álbum publicado em 1976, possui tantas qualidades gráficas, narrativas e temáticas que seria uma tolice falar sobre qualquer outra coisa neste momento. Atualmente, é comum que as pessoas tenham certa preguiça de ler Tintim, por mais que surjam novas e belas edições de seus álbuns. Isso se dá talvez por falta de uma leitura contextualizada e o entendimento de que esta é uma obra essencialmente da primeira metade do século. Aos olhos cínicos do leitor atual, Tintim é romântico, ingênuo, enfadonho, previsível.

Porém, para exaltarmos a necessidade de se ainda ler Tintim, cabe talvez apenas enumerar alguns atributos básicos:
1) Tintim não é uma história de super-heróis. Pelo contrário, surgiu antes deles, e traz, mais ou menos como Tom Sawyer ou Apanhador no campo de centeio, a criança/adolescente como protagonista intuitivo e sagaz. Um protagonista arguto, que valoriza possibilidades realistas de solução dos problemas, cujos coadjuvantes não são menos carismáticos e palpáveis e saudavelmente politicamente incorretos.
2) Tintim ainda tem um mundo a apresentar aos seus leitores. Podemos ir ao Congo, às arábias, à China, à Lua (em álbum muito detalhado e coerente em relação ao mapeamento lunar, escrito antes de Apolo 11). Olhando ao meu redor, vejo que a maioria das pessoas ainda não sabe quase nada sobre lugares como esses.
3) Tintim tem pegada clássica, de pistas a serem seguidas pelo leitor, mas Hergé não deixava de ser um mestre da narrativa por isso. Seu domínio do tempo na HQ, fragmentando quadros e inserindo microsegundos em incrível detalhismo espacial, ainda é exemplar para a maioria dos quadrinistas mundiais.
4) O traço de Hergé fundamenta praticamente tudo que conhecemos de uma vertente franco-belga em quadrinhos de aventura, num caricaturismo contido, ainda delineado pela realidade, fundador dos quadrinhos em estilo linha-clara. É um traço fino, detalhista, elegante e limpo.
5) Ao contrário do que se alardeia ordinariamente, Will Eisner não inventou a graphic novel nos anos 70 (pasmem!). Já nos anos 30 Hergé lançava álbuns de histórias longas, desenvolvidas como romances, com pleno domínio do fôlego narrativo em HQs.
6) Capitão Haddock, um alcoólatra impulsivo e de bom coração que... nunca deixa de ser alcoólatra.




2. ASTÉRIX: Uderzo e Goscinny

Se considerarmos como critério a estrutura narrativa clássica em HQ, a longevidade, popularidade, cristalina qualidade imaginativa e capacidade de contar histórias, Asterix seria sério candidato a melhor HQ da história. Levando a cabo a estética de admirável ousadia e inventividade trazido por Hergé, o Asterix clássico tem textos de René Goscinny, já antes celebrado pelo humor refinado de Lucky luke, mas muito mais debochado, especial e calibrado na série do famosíssimo gaulês. Ao seu lado, o traço de Uderzo, que seguiu com os textos da série após a morte de Goscinny nos anos 70. Uderzo, que praticamente redefiniu o detalhamento e a abordagem visual em BD, sendo capaz de criar uma identificação própria, sua, em cada etnia, cada padrão arquitetônico, cada peça indumentária e cada indivíduo dentre as centenas de variedades que aparecem na antiguidade mostrada em Asterix. No caso desta HQ não poderíamos nos limitar a apenas dizer que os personagens são carismáticos e inesquecíveis. A galeria genial e geniosa dos gauleses e romanos é tão fértil e aprofundada na série que podemos estipular um tipo de criação mitológica contemporânea, da mesma maneira que se faz com a criações de Tolkien para O senhor dos anéis
Os personagens correspondem a arquétipos que se enquadram tanto na tipologia da antiguidade (soldados, ferreiros, chefes, césares, matronas, comerciantes, generais, barqueiros, gladiadores, arquitetos, escribas, intelectuais, feirantes, etc.) quanto nas relações muito peculiares da vida contemporânea (sendo evocados o jornalismo, o comércio, a construção, as guerras, as culturas modernas, a política, tudo com escarninho, mas brilhantemente bem dosado, humor de modelo francês). Desta maneira, Asterix ainda fornece fértil diálogo e consciência sobre a História, produzindo um tipo de dialética instantânea e mítica, capaz de divertir, ensinar e ser um sofisticado produto de arte, tudo ao mesmo tempo. As páginas grandes, carregadas de desenhos personalíssimos, detalhados em minúcias, estão envolvidas em narrativas potentes e equilibradas. Goscinny tinha pleno domínio do tom que deveria ser vertido nos quadros, de maneira a não desandar a história, aplicando grafismos geniais, referências escondidas e deformação nas fontes e onomatopeias, prescindindo dos diálogos quando podia, deixando os quadros e sons se contarem por si. Personagens como Asterix e Obelix, passeando em arte tão bem dominada e sincera, acabam lembrando, no fim das contas, seres bíblicos como Davi e Golias, ou mitológicos como Ulisses e o Ciclope, ou rei Minos, o Minotauro e Ariadne – coisas de eras, histórias, pessoas e narrativas mais puras e profundas. Após a morte de Goscinny a série tem um decaimento bastante vertiginoso. Então é melhor recomendar os álbuns publicados apenas até meados dos anos 70, finalizando um era poderosa nas HQs.



3 – OS SCHTROUMPFS (SMURFS): Peyo

Os anos 50 foram sem dúvida a era de ouro da BD clássica, quando as histórias em quadrinhos europeias conseguiram romper definitivamente o julgo das comics americanas e passaram, cada país a seu modo, a transformar as HQs do velho mundo em fenômenos culturais autônomos. No caso da Bélgica, duas revistas que atingiram seu esplendor nesta época foram determinantes para solidificar a cultura das HQs francófonas, exercendo obviamente grande influência no quadrinho francês. A Revista Tintim era editada por Hergé, trazendo, é claro (mas não só) sua criação principal, e foi responsável por fundar a linhagem da HQ de linha clara. Por outro lado, a Revista Spirou, que, entre idas e vindas, existia desde o período entre-guerras, abriu espaço para uma verdadeira constelação de grandes artistas franco-belgas de traço mais caricatural e viés cômico e crítico, dentre eles André Franquin, Morris.. e Peyo. 

De certa maneira, ao lado de Hergé, Peyo (Pierre Culliford) pode ser considerado um análogo francófono de Walt Disney, porque logo cedo a capitalização de seus personagens se tornou maior do que suas histórias em quadrinhos, e o próprio autor deixou de produzi-las pessoalmente para ir cuidar de franquias, merchandisings, parques temáticos e produtos baseados em suas criações improváveis e fascinantes. Dono de uma capacidade imaginativa que rivaliza com a de Goscinny, Peyo possuia natural senso de construção narrativa, e suas BDs estão entre as mais prazerosamente legíveis dentre os mestres franco-belgas. Sua primeira criação de sucesso foi a série Johan e Pirlouit, situada em um adorável universo medieval onde temos como protagonista um jovem escudeiro e seu ajudante ranzinza e aloprado que servem como buchas-de-canhão para os mais cômicos e estapafúrdios problemas do reinado local. Já nesta série Peyo demonstra completo domínio do tempo nas HQs, usando páginas inteiras sem mudar de cenário e criando grande número de situações e ações não-dialogadas. Impressiona sua natural e seletiva capacidade de saber o que mostrar e o que não mostrar em uma narrativa que segura e abre os requadros com timing muito preciso e brilhante dinamismo. Seus personagens são desengonçados e não conseguem fazer nada direito, contrapondo, já nos anos 50, aos virtuosismo tolo dos heróis americanos. 

Os Schtroumpfs, que ficaram conhecidos em nossa cultura pela denominação em língua inglesa – os Smurfs: realmente é difícil pensar em um não-francófono se acostumando a pronunciar o termo original, que é difícil até para os franceses, apesar de ser exatamente esta a piada do nome – , aparecerem em um dos melhores álbuns da série Johan e Pirlouit, “A flauta de seis schtroumpfs”, de 1958, e posteriormente ganharam uma série que hoje contabiliza mais de 20 álbuns, transformados em histeria global após a série animada da Hanna-Barbera (supervisionada por Peyo) nos anos 80. Esta história colocava Johan e Pirlouit de encontro com um lugar adimensional e feérico, o “país maldito”, onde eles teriam de recorrer à ajuda de pequenos gnomos azuis, mal-humorados, excêntricos e irascíveis (mais afrancesados que suas contrapartidas folclóricas do norte da grã-bretanha), que se comunicam usando a impronunciável palavra schtroumpf como verbos, adjetivos e substantivos, tornando difícil uma comunicação que não fosse entre eles. 

Nesta primeira história, o Schtroumpfs parecem bem mais uma massa impulsiva e homogênea de pequenos diabinhos azuis do que uma comunidade organizada em que cada cidadão possui uma característica própria (como vemos no desenho animado). Porém, mesmo com uma aproximação mais clara com as sociedades humanas nos álbuns a partir dos anos 80, as HQs dos Schtroumpfs até hoje não perderem sua diretriz não-maniqueísta, em que seus protagonistas são desarranjados e flutuantes, com grande quantidade de arquétipos egoístas, mesquinhos e dignos de pena. Suas personalidades falastronas e enxeridas de certa maneira ajudaram as BDs a não se distanciarem do gênio voluntarioso do europeu continental. O antagonismo entre o Grande Schtroumpf (Papai Smurf), único ser de bom senso no país maldito, e o alucinado, patético e misantropo bruxo Gargamel (o devorador de Schtroumpfs) ainda conta entre os mais clássicos e impagáveis pares de nêmesis dos quadrinhos, não deixando dúvidas de que esta série é famosa por apelar ao delirante e ao irracional, mas ao mesmo tempo tem o mérito de ajudar a fundar, esteticamente e tematicamente, a tipologia de todo um universo nas HQs mundiais.

Confira também um primeiro corte nas BDs - parte 2




A guerra em quadrinhos - três tempos, três autores, três visões: preview


Por Ciro Inácio Marcondes

Este é o resumo expandido do meu trabalho aprovado para as primeiras Jornadas Internacionais de Histórias em Quadrinhos, que ocorre na USP em agosto. Compartilho-o com vocês. O artigo fica pronto até o fim do mês, mas só poderei mostrá-lo depois das jornadas. (CIM).

A guerra em quadrinhos: três tempos, três autores, três visões (resumo expandido)

Nascidos, em seu formato de massas, junto com o próprio século XX, os quadrinhos estiveram no centro de importantes debates sobre as guerras, e esta é uma história desconhecida. Este estudo procura demonstrar que, mesmo durante a era clássica das HQs, existia uma preocupação reflexiva e humana, associada a projetos estéticos e linguagens personalizadas, sobre os efeitos socioculturais das guerras. Três diferentes guerras, autores e momentos históricos compõem este painel, relacionando-os intrinsecamente. Além da própria leitura analítica dos quadrinhos mencionados, será necessário nos apoiarmos na trajetória histórica do quadrinho americano clássico e da EC Comics (HADJU; WRIGHT); em uma fundamentação da estética narrativa dos quadrinhos (GROENSTEEN); e em uma historiografia dos quadrinhos argentinos (RAMOS) para, por fim, nos aprofundarmos em Joe Sacco com o estudo Alternative comics, an emerging literature (HATFIELD). 

A segunda guerra foi palco para a série argentina Ernie Pike, escrita pelo célebre Héctor Oesterheld e desenhada por um jovem Hugo Pratt. Publicada entre 1957 e 58, ela utilizava como personagem o histórico jornalista de guerra americano para transmitir um humanismo declarado e trágico sobre pequenas histórias individuais escondidas nos números da grande guerra. Ernie Pike é aventuresco, idealista e consideravelmente literário, revelando amarga e tradicional visão sobre a guerra.

O segundo modelo é um pouco anterior à publicação argentina, mas esteticamente mais arrojado, cru e niilista. O quadrinista Harvey Kurtzman foi um dos responsáveis pelo sucesso e teor adulto da EC Comics nos Estados Unidos nos anos 40 e 50. Kurtzman situava suas histórias em uma guerra contemporânea à época, a da Coréia. Seu traço vigoroso e narrativas fluidas, que invertiam relações morais na guerra, são ambíguas e céticas, com visão madura e anti-romântica, sendo comum serem contadas do ponto de vista do inimigo.  

Depois do clássico e do moderno, chegamos à configuração contemporânea do quadrinista Joe Sacco a partir da análise dos dois volumes de Palestina, publicados originalmente em nos anos 90. Distante do idealismo ou do ceticismo dos outros, Sacco desenvolveu, numa graphic novel composta de dezenas de relatos que coletou em sua visita à faixa de Gaza, uma forma autobiográfica, epistolar e documental de vislumbrar a violência da guerra em quadrinhos. São patentes as influências do cinéma verité e do new journalism para compor esta visão pós-moderna e ativista dos quadrinhos, altamente consciente do potencial do meio enquanto instrumento político.

Bibliografia:

GROENSTEEN, Thierry. The system of comics. University press of Mississipi, 2009.


HATFIELD, Charles. Alternative comics: an emerging literature. University Press of Mississipi, 2005.

KURTZMAN, Harvey. Clásicos bélicos, two-fisted tales. Barcelona: Planeta DeAgostini, 2006.

OESTERHELD, Héctor; PRATT, Hugo. Sargento Kirk/Ernie Pike. Buenos Aires: Arte Gráfico Editorial, 2006.

RAMOS, Paulo. Bienvenido. Um passeio pelos quadrinhos argentinos. Campinas: Zarabatana, 2010.

SACCO, Joe. Palestina, uma nação ocupada. São Paulo: Conrad, 2000.

WRIGHT, Bradford W. Comic book nation. The transformation of youth culture in America. John Hopkin University Press, 2003.

A cultura de quadrinhos argentina: entrevista com Paulo Ramos

Por Pedro Brandt

Sempre tive uma grande curiosidade para conhecer melhor os quadrinhos argentinos. Um dos meus planos para quando fosse visitar o país era justamente comprar algumas obras interessantes produzidas pelos autores de lá. Eu sabia que tinha muita coisa boa, toda uma tradição e tal. Mas, sem tantas referências, eu teria que comprar meio no escuro, por instinto.

Por sorte, alguns meses antes de ir passar umas férias em Buenos Aires (em novembro de 2010) foi publicado o livro Bienvenido – Um passeio pelos quadrinhos argentinos, do jornalista Paulo Ramos, do Blog dos Quadrinhos.

Um livro rico em informação e com um apanhado de imagens que apresenta um panorama do melhor do quadrinho argentino. Uma produção vasta, riquíssima (com várias obras primas) e pouco conhecida pelos leitores brasileiros.

Recomendo o livro não só pelas dicas, mas pela pesquisa bem feita e embasada e pelo ótimo acabamento editorial da sempre competente Zarabatana Books. Além da história das HQs na Argentina, Bienvenido apresenta entrevista com Elsa Oesterheld, viúva de Héctor Germán Oesterheld, roteirista, um dos mestres do quadrinhos argentinos e desaparecido político da ditadura do país.

Entrevistei o Paulo por e-mail no ano passado. Abaixo seguem as respostas.

* comprei várias das indicaçãos de Bienvenido (e algumas outras). Em breve comento sobre elas.

Quais os principais desafios na feitura do livro?
Creio que o principal desafio foi ter acesso às obras argentinas. O caminho que encontrei foi mesmo investigar tais produções in loco. Viajei seis vezes ao país entre 2007 e o fim de 2009 e comprei por lá tudo o que pude, de livros novos a títulos já antigos, fora de catálogo, alguns bastante raros.

Arrisca algum palpite de porquê tão poucos quadrinhos argentinos foram publicados no Brasil?
Como você bem diz, trata-se de um palpite. Creio que a resposta passa pela tendência de importarmos quase cegamente muito da cultura de massa dos Estados Unidos. No caso dos quadrinhos, priorizamos tais produções ao longo de todo o século 20, das tiras às aventuras dos super-heróis. Quase não abrimos espaço para histórias vindas de outros países desenvolvidos. O que diria, então, de um país sul-americano, vizinho.

A bibliografia do livro é enorme! Como você chegou a todas essas fontes de pesquisa? O que diria que o seu livro tem de diferente dos livros argentinos sobre as HQs de lá?
A bibliografia é enorme, sim. Só tive ideia do quanto havia lido quando comecei a elencar todas as obras e pesquisas utilizadas. Como comentei na primeira resposta, cheguei à maior parte das obras comprando uma a uma ao longo das viagens à Argentina. Algumas outras, poucas, foram publicadas no Brasil, caso de Mafalda e de outras coletâneas de Quino, o criador da personagem. Creio que o que se destaca na produção argentina, em comparação com a brasileira, seja a tradição de criar enredos mais longos, publicados em capítulos, como se fossem folhetins. Isso permitia, a longo prazo, a construção do que hoje temos chamado de novela gráfica. Os temas variavam, de mistério a ficção científica, de faroeste a aventura. Muitas dessas histórias se destinavam a leitores adultos já na década de 1950, bem antes da Europa, por exemplo. Não tivemos aqui tal tradição no tocante aos quadrinhos, mesmo no terror, gênero em que fomos tão fortes - tais histórias tendiam a serem curtas.

Muitos amigos meus que visitaram a Argentina recentemente tiveram dificuldades de encontrar quadrinhos por lá — mas não sei se eles não procuraram direito. O que eu quero saber é o quanto é fácil ou difícil encontrar quadrinhos argentinos por lá (atualmente, recomendo para todos os amigos passarem nas lojas de quadrinhos de Buenos Aires que você listou no livro).
Tive a mesma dificuldade em minha primeira viagem a Buenos Aires, em 2007. Fui de início aos caminhos mais óbvios, os kioscos – nome das bancas de jornal de lá – e as livrarias. No primeiro caso, encontra-se muito pouco. Nas livrarias, a situação é um pouco melhor. O que mais há nas prateleiras são coletâneas de tiras já publicadas nos jornais – caso de Macanudo, de Liniers, para ficar em um exemplo. Mas é questão de saber procurar. O melhor lugar para encontrar os quadrinhos argentinos são as comiquerias, as lojas especializadas em quadrinhos. Há várias em Buenos Aires, muitas na região do microcentro, principal área turística da cidade. Lojas dos jornais também vendem edições das coleções de quadrinhos já publicadas. É outro caminho para se encontrar bons títulos a um preço mais em conta.


Tem alguma HQ argentina rara, que você gostaria de ter e ainda não conseguiu?
Tem, sim. Duas me ocorrem no momento. Uma delas é uma edição de Las Puertitas del Señor Lopez, um dos melhores quadrinhos produzidos no país, no meu entender. Consegui uma coletânea publicada pelo jornal Clarin, volume que me ajudou muito a entender a obra. Mas há outra edição, esgotada, que não consegui encontrar. Outra é um álbum chamado Legion, de Salvador Sanz, um jovem desenhista da nova geração de quadrinistas, muito talentoso. Nem mesmo o autor tinha um exemplar para me passar. É um trabalho esgotado no país, sem previsão imediata de ser reeditado.

É possível apontar uma(s) característica(s) inerente(s) ao quadrinhos argentino?
Acredito que seja a tradição das aventuras mais longas, construídas em capítulos, como nos folhetins, como comentado na terceira resposta.

Como você descreveria o trabalho de Oesterheld para quem nunca leu uma história do autor?
É um roteirista bem acima da média, temática e qualitativamente. Diria que é um autor de dois momentos bastante distintos. O primeiro, na década de 1950 e parte de 1960, é mais marcado por roteiros de diferentes gêneros, em que se destaca a ficção científica. É dessa época El Eternauta, sua obra mais conhecida. Um segundo momento, iniciado no fim dos anos 1960, é mais voltado a produções mais engajadas politicamente, reflexos da opção política adotada por ele. A biografia de Che Guevara, um dos poucos trabalhos dele lançados no Brasil, é desses anos.

Foi fácil chegar até a viúva de Oesterheld? Como ela encara falar sobre o desaparecimento do marido e das filhas?
Cheguei até ela com a ajuda de dois contatos, um daqui do Brasil e outro da Argentina. Foi uma das entrevistas mais fortes que fiz em meus mais de 15 anos de jornalismo. Elsa Oesterheld perdeu, no prazo de dois anos, o marido, as quatro filhas – duas delas grávidas – e os dois genros, todos vítimas da ditadura instaurada no país em 1977. A tragédia pessoal já está muito amadurecida por ela. Perguntei como ela encarou isso. Fecho o livro com a resposta dela.


Qual autor argentino contemporâneo você diria que merece ser publicado no Brasil?
Há vários. Não seria uma lista de apenas poucos nomes. Se fosse relacionar todos, seguramente iria me esquecer de alguém.

Você tem alguma HQ argentina favorita? Ou personagem? Por quê?
Gosto muito das tiras, assim como aprecio também as nossas, que não perdem em qualidade para as de lá. Fora do universo humorístico, há três obras que considero muito interessantes, tanto na qualidade gráfica como no roteiro: El Eternauta, de Héctor Germán Oesterheld e Francisco Solano Lopez; Cosecha Verde, de Carlos Trillo e Domingo Mandrafina; Las Puertitas del Señor Lopez, de Carlos Trillo e Horacio Altuna. Como disse, são trabalhos que se distinguem pela qualidade. Infelizmente, como a maior parte dos quadrinhos de lá, permanecem inéditas aqui no Brasil.

O livro tem sido lançado em várias cidades. Como tem sido a resposta a ele?
Tenho tido um bom retorno nos lançamentos. Os leitores têm se mostrado muito interessados, talvez pelo ineditismo do assunto. Das pessoas que já o leram, também tenho recebido comentários bastante positivos. Hoje mesmo, recebi de um editor um retorno, por e-mail, muito elogioso.

Gostaria que você fizesse uma lista de cinco quadrinhos argentinos fundamentais, daqueles que os leitores brasileiros deveriam tentar comprar quando passarem pela Argentina.

Vamos lá:
- Mafalda, de Quino
- Macanudo, de Liniers
- El Eternauta, de Héctor Germán Oesterheld e Francisco Solano Lopez (a primeira parte, publicada na década de 1950)
- Cosecha Verde, de Carlos Trillo e Domingo Mandrafina
- Las Puertitas del Señor Lopez, de Carlos Trillo e Horacio Altuna

Uma palhinha de Paulo Ramos em vídeo, falando ao Jornal de Debates sobre o futuro das HQs brasileiras:

HQ em uma página: a colonização segundo Mortadelo e Salaminho






















Trajetória do colonialismo (Francisco Ibáñez, 1992): A HQ Mortadelo e Salaminho (Mortadelo y Filemón) data ainda dos anos 50 e consta entre as mais tradicionais espanholas. Seu modelo estilístico tem algo a ver com as BDs franco-belgas, mas consegue ser ainda mais histriônica e exagerada, com seus dois agentes secretos estúpidos, grosseiros e escandalosos. Nesta edição de 1992 que trata do racismo, o autor Francisco Ibáñez faz um hilário preâmbulo contando, de maneira mordaz e sarcástica, as trajetórias dos colonialismos e racismos no mundo. No último quadro da página anterior, Ibáñez colocava o colonizador europeu como apenas "meio" racista: com uma metade (os índios homens), era cruel e assassino. Com a outra metade (as índias mulheres), como podemos ver o primeiro quadro da página a seguir, já não era bem assim. Seguem então requadros com: a colonização americana, parodiando Hollywood; a Ku Klux Klan e o começo do Séc. XX nos EUA; as guerras do Coreia e do Vitenã (ressaltando a presença dos soldados negros); e por fim Hitler e os judeus. Tudo com humor aloprado, bizarramente beirando o politicamente incorreto. Adorável. (CIM)


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O Poderoso Thor

por Ciro I. Marcondes

Lendo a recente republicação das primeiras histórias de “O Poderoso Thor”, com roteiros de Stan Lee e arte de um ainda imaturo Jack Kirby, creio ser correto pensar na incômoda ambiguidade da cultura de super-heróis tanto para as HQs em geral quanto para a cultura de nossa era, assim como na ausência de perspectiva crítica sobre a adorada figura de Stan Lee da maneira como se faz, por exemplo, com Walt Disney. Digo isso pensando na avalanche de filmes desprezíveis consumindo salas de cinema e monopolizando a atenção de Hollywood na direção de um entretenimento bombado em efeitos especiais, mas infantilizado e vazio. Muitas vezes baseados nos simpáticos personagens de Lee, alguns destes filmes estão aquém da cultura de HQs, alimentando o estigma de descartabilidade. 

É claro que a força das criações de Stan Lee - com admirável moderação dos exageros dos heróis da era de ouro, popularizando em um contexto pós-midiático arquétipos humanos interessantes e aproximando o herói dos seus leitores -  tem méritos. O sentido aqui não é colocar na berlinda o Homem-Aranha, o Hulk, os X-Men ou sequer o poderoso Thor (cuja adaptação pro cinema saiu justo agora). As criações de Lee (ou remodelações, já que quase tudo em Lee é francamente baseado em algo de outros quadrinhos ou culturas), importantes para nosso imaginário atual, permanecem com suas essências ao mesmo tempo simples e adequadas. Elas estão muito além do alcance de seu criador. Parece um problema, porém, que estas essências, fetichizadas, disseminadas em bonecos, produtos, metáforas cotidianas, fantasias sexuais, moda, etc, estejam se tornando um denominador comum da sociedade de consumo. Esta atenção entusiasmada e cultista de um imaginário antes muito consciente de suas limitações está tornando o que hoje entendemos como uma identidade geek em uma cultura autoindulgente, cínica, explicitamente perversa, confessadamente idiotizante. Como fã de quadrinhos e até como leitor de Stan Lee, confesso acompanhar com horror a massificação do imaginário de super-heróis.

Vejamos estes quadrinhos do Poderoso Thor, datados de 1962, roteirizados no estilo marvel way por seu criador Stan Lee, com diálogos detalhados por Larry Lieber e arte de Jack Kirby. Meu primeiro interesse por Thor foi justamente buscar de que maneira esta figura extraída das mitologias vikings havia sido revertida em objeto de exploração (acho que, no caso de Thor, é lícito dizer “exploitation”) pela indústria das HQs. Sempre pareceu-me que, a partir de abordagens inteligentes como a de Alan Zelenetz e Charles Vess (“A Bandeira do Corvo”) ou a de Robert Rodi e Esad Ribic (“Loki”), o universo de Thor tivesse grande potencial. Daí recorrer à arqueologia. Lendo as mais de 10 histórias magnificamente republicadas pela Panini na versão nacional da “Biblioteca histórica marvel”, logo nos chama à atenção a pobreza conceitual e artística, mesmo para os padrões da Marvel nos anos 60, do universo de Thor.

Não é novidade que HQs da era de prata, fora algumas coisas do Homem-Aranha, Surfista Prateado e X-Men, despertam interesse mais pelo lápis vigoroso de um Kirby, Ditko ou Buscema do que pelas aventuras ingênuas de Stan Lee. No caso de Thor, entretanto, o caráter derivativo é franco e patente. Lee, já ocupado com o sucesso do Hulk, do Quarteto Fantástico e do Homem-Aranha, produziu roteiros sintéticos com os plots básicos e passou o detalhamento para Larry Lieber, processo que se tornaria tradicional em alguns setores da Marvel. Assim, os personagens de Thor são pálidos, óbvios, diretos. O frágil alterego Don Blake, médico cuja deficiência física contrasta com sua contraparte divina e ariana, logo é abandonado em sua assepsia maniqueísta. O mesmo ocorre com o interesse romântico, a puritana Jane, apaixonada por Thor, mas desdenhosa de Blake (bla bla bla... mesma velha história). Assim, o que emerge dessas tediosas tramas da Thor é justamente o aspecto não-ingênuo que delas se depreende, o que nos permite um comentário mais severo a respeito da isenção de Stan Lee.

Caça às bruxas



Consideremos, em primeiro lugar, que o mais interessante em Thor, e o que o definirá na sequência de sua trajetória enquanto mito e personagem de HQ, quando ele já não estiver mais sob o controle de Stan Lee, é sua origem na cultura nórdica, na mitologia viking, na inesgotável fonte de inspiração para o imaginário ocidental, do épico mudo de Fritz Lang “Os Nibelungos” às recentes e oscarizadas adaptações de “O Senhor dos Anéis”. Logo, mesmo nas histórias de Lee, são as intrigas mágicas e palacianas dos deuses tortos de Argard que vão instilar algum diferencial no universo do personagem, especialmente na figura do nêmesis Loki, um tipo picaresco, subversivo e invejoso, contraponto importante.  Porém, submetido a um ritmo industrial de produção, aos rigores do comics code authority (incomodamente estampado em todas as capas da republicação) e à franca paranoia da guerra fria em seu auge, imagino que Lee não tenha tido muito interesse em aprofundar o personagem em suas origens resididas na cultura popular. Thor é um herói qualquer, exilado na Terra, e combate vilões eventuais e ordinários como o “Copiador”, “Sandu” ou “Mister Hyde”, apaixonado por uma moça reprimida que o ridiculariza em sua essência humana. Nada que um Super-Homem, protótipo de todo super-herói, já não fosse.

Porém, além de vilões insossos perdidos no tempo, Thor também trabalha junto com o exército americano. Logo na primeira história (“Os homens de pedra de sarturno”), uma ilusão provocada pelos tais “homens de pedra” chama atenção pelo seu caráter subliminar: um dragão vermelho que aterroriza o povo norteamericano. Nas histórias subsequentes, vemos que as alusões ao mundo comunista deixam de ser subliminares. Em “O poderoso Thor x o executor”, Thor deve lançar-se contra uma ameaça militar controlada por um tirano ensandecido por aspiração de domínio global chamado “executor”. Ele e seus comparsas possuem traços alatinados, com cicatrizes de guerra deformativas, usam boinas e seus caças ostentam a foice e o martelo. São rudes, pavorosos, e suas ações sugerem tortura e estupro. Lee não avança no conteudo político deste conjunto de signos. Nada sobre o mundo do socialismo é revelado. O executor é um vilão genérico e cruel como um Esqueleto de He-Man ou um Munn-ha de Thundercats. É o mal pelo mal, sem arestas ideológicas. Mas usa boina como guerrilheiros cubanos, chama-se “executor” e, em quadro emblemático, manda para o paredão de fuzilamento um soldado que falhou em uma missão.


Esta associação à cultura militar e a uma demonização dos inimigos dos Estados Unidos nos anos 60 se encontra, ainda neste mesmo volume, em várias outras histórias. Em “Prisioneiro dos vermelhos”, Thor precisa ir à União Soviética à procura de cientistas americanos, supostos desertores. Lá ele os encontra capturados pelos grotescos soviéticos, que os obrigam a desenvolver tecnologia sob regime de escravidão. Esta história, escrita no auge da guerra fria, distorce tema controverso do passado norteamericano: o dos cientistas americanos que efetivamente fugiram por se filiarem ao partido comunista. A história de Thor descarta essa possibilidade e os coloca como vítimas de uma tola conspiração. Os exemplos se repetem e seria perda de tempo recapitulá-los em detalhes. Em “Aprisionado pelo copiador”, Thor se depara com grupo de alienígenas cruéis e com sede de conquista cujo líder tem o rosto de Stalin (além de serem da cor vermelha). Em “O misterioso homem radioativo”, Thor vai à Índia salvar a população da ameaça da China comunista, genérica como todos os outros.

O ponto em que eu queria chegar é evidente: pouco se fala sobre um Stan Lee colaboracionista e ideologista, usando tramas pueris e românticas em inocentes histórias de ação (orgulhosamente aprovadas pelo comics code authority) para associar símbolos mundiais (estrelas, cores, foices) a figuras grotescas e rasas, que sequer têm o poder de crítica aos estados socialistas para além de uma transfiguração direta e barata, porque nenhum conteúdo propriamente político é abordado nestas histórias. E isso é fácil de se entender, afinal, as histórias são direcionadas às crianças, que são bem menos capazes do ato da problematização. Neste sentido, Lee não difere dos primórdios da Marvel Comics, ainda Timely Comics, que criou nos anos 40 inúmeros personagens embandeirados como motivação para a segunda guerra mundial. Logo na primeira edição do Capitão América, vemos o herói que veste e personifica o american way desferir um golpe de boxe nas fuças de Adolph Hitler. Com certeza é preciso entender o contexto sociopolítico da guerra fria e relativizar a participação da cultura pop em um mundo bipartido, mas também é preciso lembrar a vulnerabilidade de um pequeno leitor de HQs nessa mesma época.

As criações de Stan Lee fazem parte de nosso patrimônio cultural mundial e comum. Seu poder de trazer a cultura de quadrinhos para um patamar humano desencadeou muitas mudanças importantes na maneira como lidamos com nossas aspirações e heroísmos pessoais, sendo até hoje fonte de entretenimento legítimo e servindo como um aperitivo daquilo que a totalidade do prazer e da educação que o pensamento mitológico inspirou em culturas antigas ou selvagens. Porém, como toda mitologia, seus heróis se desvinculam de seus criadores no decorrer da História, e seguem vivos pela força coletiva de autores e leitores que procuram cada vez mais adequá-los à passagem do tempo. Confundir, de maneira fetichista, a mente criativa, porém artística e politicamente limitada de Stan Lee, com o efeito mitológico de suas criações, parece consequência do ato de querer-se apenas cultuar o universo dos quadrinhos sem problematizá-lo. Isso é curioso porque fornece munição justamente para aqueles que querem impedir o crescimento cultural desta forma de expressão, os mesmos que proibiram a colossal e alternativa cultura de HQs dos anos 40, permitindo a ascensão de heróis em seu formato light, cujo principal expoente é justamente o velho Stan Lee que aparece, tal qual um Hitchcock acidental, em cada uma das megaproduções cinematográficas da Marvel que são lançadas nos verões americanos.

Ciro Inácio Marcondes não odeia os heróis Marvel

Vida de estagiário: em breve na tevê





















por Pedro Brandt

Não vejo a hora da série Vida de estagiário estrear na tevê. Em novembro do ano passado, passei uns dias de férias em São Paulo, na casa do Vitão, meu primo e diretor da adaptação televisiva da hilária tirinha criada por Allan Sieber. Tive o privilégio de ver três episódios e posso garantir: ficou incrível.

Não vou comentar muito para não estragar a surpresa, mas posso adiantar que a série tem uma pegada de humor que eu não vejo na tevê brasileira. Fico muito satisfeito com isso, não só pelo Vitor, mas também porque estou cansado desse humor sem ideias e enervantemente sem-graça que, com raríssimas exceções, impera na televisão — tanto na aberta, quanto na paga — aqui no Brasil.

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Esta semana, o Sieber postou no blog dele o teaser de Vida de estagiário. Baseado apenas em 1,5 min de vídeo, alguns leitores já vieram jogar pedra. Eles não fazem ideia do que estar por vir. Pelo vídeo, realmente, não dá para ter muita noção do que será a série. Por um lado, se eu tivesse visto apenas esse trailerzinho, talvez também ficasse com o pé atrás. Por outro, se eu tivesse achado palha o que vi em São Paulo no ano passado, nem perdia meu tempo divulgando a parada.

Vida de estagiário será exibido pela TV Cultura e, por enquanto, não tem data de estreia.

Crédito da foto: Manoela de Ombreiras

HQ em um quadro: exército japonês por Hugo Pratt


Exército japonês na segunda guerra mundial (Hugo Pratt/Héctor Oesterheld, 1959): Mais de 10 anos antes de se celebrizar pela genial série Corto Maltese, o grande ilustrador e roteirista italiano Hugo Pratt esteve na Argentina e trabalhou anos com Oesterheld, o maior roteirista platino. Esta imagem é da série Earnie Pike, que está dentre os mais qualificados quadrinhos de guerra do mundo. Oesterheld tinha a fina qualidade de situar a segunda guerra em localidades tão díspares quanto o norte da África, o sul da Itália ou ilhas no Japão, elaborando a diversidade do conflito. Pratt, como se vê, em 1959 já desenvolvera seu traço angulado de belo riscado em preto-e-branco, num requadro panorâmico que deixa, sem que apareçam ideologismos, os japoneses tão assustadores quanto o papel que desempenham na história.