"Os Donos da Terra" e os Tupinambá: etnografia de superação em quadrinhos

"Os Donos da Terra" e os Tupinambá: etnografia de superação em quadrinhos

por Jota Erre

Os Donos da Terra, de Daniela Fernandes Alarcon, Vitor Flynn Paciornik e Glicéria Jesus da Silva, é uma HQ-documentário, uma investigação e um convite a conhecer e ter a consciência da História de um dos povos formadores da diversidade brasileira, o Povo Tupinambá. Na diversidade interna ao próprio Povo, a HQ se centra na condição política atual e nas condicionantes históricas e sociais que caracterizam a vida do Povo Tupinambá de Olivença, cuja Terra se localiza no estado da Bahia.

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Eu Não Preciso de Mais Nada: existencialismo de videogame ou a crisálida de Gabriel Dantas

Eu Não Preciso de Mais Nada: existencialismo de videogame ou a crisálida de Gabriel Dantas

“Meu primeiro contato com a morte foi no colégio”, diz o recordatório do requadro de um certo zine “Viagens Rumo ao Esquecimento”, que Gabriel Dantas publicou ainda em 2017, quando tinha (possivelmente) 17 ou 18 anos. Nesta história, seu personagem se insere num ambiente juvenil-escolar (como tantas e tantas vezes vai repetir em seu trabalho futuro, especialmente em seu Instagram @bifedeunicornio) para recordar o falecimento, no meio do bimestre, de um professor querido, algo que talvez reverbere na memória de muita gente que vá abrir esse volume impresso Eu Não Preciso de Mais Nada, em que a Ugra Press coleta aquilo que o Gabriel produziu entre 2017 e 2019.

Esse primeiro zine era bem rudimentar e primário (lembra um exercício) e eu já estava achando que a editora havia investido num material inferior ao publicado na internet quando essa história específica do professor derreteu minha retidão de crítico. Talvez isso tenha a ver com o fato de eu ser também professor, mas acho que na verdade o que ocorreu ali foi o ato de realizar uma leitura do nascedouro da dupla orientação que Gabriel Dantas iria levar para o resto dos seus quadrinhos: um conflito (explorado de maneira tresloucada e hilária) entre um jeito bobo de ser, estilo adolescente videogueimeiro, e uma dor existencial lancinante, irresistível para qualquer um que vá ler seu material. E estes dois aspectos ficam vazando um para o outro até que você não saiba exatamente se está rindo ou chorando. Uma forma meio “palhaço triste” de crescer e entender o mundo ao seu redor.

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13 PERGUNTAS PARA BATISTA

13 PERGUNTAS PARA BATISTA

por Márcio Jr.

Se no longínquo Brasil pré-pandêmico você era frequentador de feiras de quadrinhos, com certeza passou pela mesa de Marcos Batista. E se você já fez parte dos circuitos mais underground do rock, as chances de ter visto o mesmo Batista num palco não são nada remotas. Agora, se o seu lance é cartum na internet, a possibilidade de desconhecer o sujeito é virtualmente nula. A boa nova é que Batista acaba de lançar seu primeiro livro-solo: O que conto quando conto uma piada. Com curadoria do onipresente Diego Gerlach e design classudo do craque Stêvz, a compilação de mais de 200 tiras e cartuns é um convite ao riso. Duvido que consiga segurá-lo. Dá-lhe, Batista!

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Samsara, de Guilherme de Almeida Prado e Hector Gomez Alisio: paixão primal

Samsara, de Guilherme de Almeida Prado e Hector Gomez Alisio: paixão primal

por Lucas Reis

Entre o lançamento de A Dama do Cine Shanghai e Perfume de Gardênia, Guilherme de Almeida Prado publicou sua única história em quadrinhos: Samsara (1991), considerada por alguns a primeira graphic novel brasileira. Não pretendemos entrar no mérito de defender se Samsara é realmente o primeiro romance gráfico do país. Afinal, primeiro é preciso definir o que seria uma graphic novel. É certo que o gibi faz parte de uma coleção da finada editora Globo intitulada Graphic Globo, legitimando a ideia de ser pensada como romance gráfico, mas o trabalho de Prado foi apenas a sétima edição da série. Uma argumentação óbvia seria a de que as outras edições são de estrangeiros e foram publicadas primeiro no exterior. Todavia, em Samsara, Prado divide a criação com Hector Gomez Alisio, desenhista argentino, o que embaçaria essa argumentação. Afinal, trata-se de uma graphic novel brasileira, com um dos autores estrangeiro.

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TRÊS BURACOS: DO CONTO DE BOTIJA AO BRASIL PROFUNDO

TRÊS BURACOS: DO CONTO DE BOTIJA AO BRASIL PROFUNDO

Viajando pelo sul do Pará, passamos perto da estrada de acesso para Curionópolis, cidade notória por abrigar o distrito de Serra Pelada. Nosso guia nos contou uma breve história sobre um tio desgarrado, que havia tentado a sorte no garimpo e perdido a vida em disputa pela fração de uma onça de ouro. Também nos contou sobre os “órfãos de Serra Pelada”, garimpeiros da região que guardam esperanças sebastiânicas sobre a reabertura das minas. Enquanto não puderem voltar a retirar ouro da terra, eles esperam. Para mim, naquela viagem dois anos atrás, uma percepção se consolidou: de Sierra Madre à Serra Pelada, histórias de garimpo sempre giram em torno de obsessão e morte.

Três Buracos, mais recente HQ do consagrado Shiko, usa um garimpo abandonado no interior da Paraíba como palco para um conto de botija (histórias de tesouros escondidos, que revelam-se aos afortunados através de sonhos). Nela, acompanhamos a busca árdua e obstinada da protagonista Tânia por uma enorme Turmalina Azul, escondida por seu pai em algum nicho profundo da mina localizada na propriedade que dá nome à história. Enquanto isso, Tânia também tem de lidar com os planos do irmão Canhoto, recém fugido da prisão, e a lealdade titubeante de sua companheira, Cleonice.

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“Sem dó” é a história de nossas avós em forma de quadrinhos

“Sem dó” é a história de nossas avós em forma de quadrinhos

A autora, que além de quadrinista, é também cartunista e ilustradora, nasceu em São Paulo na década de 1960. Portanto, “Sem dó” é uma coleção de memórias que ela não viveu. No começo, o objetivo era desenhar as aventuras do avô que migrou para o Brasil no final do século XIX e era filho de um anarquista radical. Contudo, ao ouvir os relatos sobre as mulheres da família, o roteiro inicial acabou ganhando novos rumos. A dedicatória do livro, inclusive, vai para a mãe, para as tias, primas, avós e outras integrantes da família que, segundo Penna, “se casaram, não se casaram, se mandaram, tiveram filhos, aguentaram, não se aguentaram, se divertiram, viveram dias infelizes e dias felizes”.

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O Ditador Frankenstein e Outras Histórias de Terror, Tortura e Milicos: Apresentação

O Ditador Frankenstein e Outras Histórias de Terror, Tortura e Milicos: Apresentação

Em um ciclo que durou aproximadamente quatro décadas, mestres como Jayme Cortez, Flavio Colin, Nico Rosso, Mozart Couto e Watson Portela deixaram marcas indeléveis na HQ brasileira. Nesta constelação, Julio Shimamoto é uma das estrelas de maior brilho e, certamente, a mais longeva. Aos 80 anos de idade, Shima segue em franca produção, tendo participado de todos os períodos do quadrinho nacional desde sua estreia, ainda na década de 1950.

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