HQ em um quadro: Triunfo de Loki, por Esad Ribic e Robert Rodi





















O eterno retorno do trapaceiro (Esad Ribic e Robert Rodi, 2005): este quadro abre a minissérie Loki, uma HQ de super-herói de rara densidade existencial e valor filosófico, roteirizada pelo escritor Robert Rodi e poderosamente pintada pelo artista croata Esad Ribic. Se acabei sendo um pouco duro com as primeiras histórias de Thor, esta HQ tem o mérito de nos recompensar com toda a beleza conceitual do universo do personagem, construindo, no final, uma incrível parábola mitológica. Loki, o deus da trapaça de Asgard e irmão adotivo de Thor, finalmente conseguiu. Já velho e amargo, ele derrota o soberbo irmão em combate e se torna senhor dos deuses. É a hora da desforra. Loki acorrenta o irmão e prende todos aqueles que durante incontáveis anos haviam-no humilhado das mais diferentes formas: Lady Sif, Balder e até seu pai adotivo, Odin.

Loki é um dos tipos mais intrigantes do mundo dos super-heróis. Conspirador, invejoso, ressentido, fracassado: é o nêmesis exato do ideal viking, altivo, perfeito, orgulhoso e infalível que representa o arquétipo de Thor. O fato de Loki trazer um perfil desajustado, malhado pelas condições cruéis das virtudes mitológicas, sem qualquer ideal clássico de beleza ou força moral, me faz pensar, com alguma compaixão, numa triste gênese da infâmia, da perfídia e, claro, da covardia. Rodi enquadra a história em um princípio narrativo muito simples, mas sempre eficiente: Loki é o novo soberano e impõe sua vontade aos súditos de Argard, que o detestam, mas o servem. Solitário e repudiado, ele é atormentado por flashes e fragmentos do passado ao mesmo tempo em que precisa considerar o ofício, natural do monarca, de governar, e se vê mergulhado em um improvável dilema: deve ou não matar o meio-irmão Thor?

Sem cenas de batalha, a história já começa com Thor acorrentado, de onde lemos, vindo de fora do quadro, o imperativo de Loki: "Ajoelha-te, deus do trovão". O quadro arrebata porque, é claro, remete à imagem de cristo crucificado, e a qualidade realista da arte de Ribic traz dolorida humanização, tal qual imagens do Renascimento, como a Crucificação de Cristo de Rubens, tinham intenção de trazer. A ironia e grandeza desta história, porém, está no fato de que, aqui, a vítima é Loki, e Thor, o crucificado, o algoz. Desde as imagens da infância amarga de um pequeno e raquítico Loki, até sua juventude privada das orgias e do hedonismo dos perfeitos deuses de Argard, tudo vai piedosamente comovendo, em sua rememoração. Estamos presenciando a expiação da perfídia, a redenção do invejoso.  

A grande epifania da história está no momento em que Loki consulta um oráculo para saber as razões de seus intermináveis fracassos. "Fadado a perder. O destino é o arquiteto de meu tormento". Loki então descobre não apenas que possui um tipo de "falha trágica" grega, um daimon, maldição eterna e repetitiva, mas também que isso transcorre em todo tipo possível de realidade: ele pressente, num transe místico, infinidades dentro de infinidades de realidades alternativas, em mundos exóticos e alienígenas, aonde existem sempre um arquétipo de Loki e um de Thor. E em todas elas, inefavelmente, Thor é sempre o vencedor, e Loki, sempre o perdedor. A pulsação deste retorno eterno do mesmo faz desta HQ uma linda narrativa de matriz nietzschiana, e do personagem de quadrinhos Loki um legítimo emulsor de mitologia. (CIM)

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Superbully Americano




por Ciro I. Marcondes

Por uma questão de coincidência, a DC Comics acaba de zerar novamente (“reboot”) seu universo, no legítimo sentido mercadológico de adaptar seus personagens às novas condições culturais, justamente no momento em que eu preparava este texto a respeito das primeiras histórias do Superman, datadas de 1938, republicadas pela Panini sob o título de “Crônicas – Volume 1, em 2007. No reboot em questão, a mitologia do personagem será repensada a partir de uma ideia muito conveniente de Grant Morrison: a de trazê-lo de volta às suas raízes mais profundas. O novo “velho” Superman não vai voar (apenas dar uns saltos muito grandes) e seus poderes divinais serão consideravelmente reduzidos. Da mesma forma, ao invés de supervilões intergalácticos e de outras dimensões, este novo Superman estará a serviço do cidadão comum, combatendo gangsters, falsários, políticos corruptos, etc. De fato, estas alterações (radicais a ponto do “azulão” vestir calça jeans) possuem uma convergência com o Superman de Jerry Siegel e Joe Shuster. Mas que Superman era este?

As origens culturais do Superman são mais ou menos bem conhecidas: mistura de herói de ficção científica pulp, com herói de capa e espada, com halterofilista. O seu surgimento – os autores o criaram em 1932 e tentaram vendê-lo no usual formato de comic strip, mas só conseguiram publicá-lo no formato de comic book, em 1938) – dentro de um mundo de publicações pop muito crescentes nos anos 30 que incluíam toda espécie de histórias fantásticas, poderia ser, de certa forma, previsto (vide outros justiceiros mascarados precedentes). Porém, usando uma linguagem contemporânea, este meme que se inaugura com Superman – o do super justiceiro com poderes esdrúxulos advindos de explicações científicas grosseiras (considerando o mundo sci-fi B das histórias de alienígenas como tal), usa roupa esquisita e protege os fracos e oprimidos – foi disparado com a grande sacada de Siegel e Shuster. Como podemos ver pelo sucesso deste mesmo arquétipo nos dias de hoje, foi um meme vitorioso, adaptado ao imaginário cultural do século 20.


O que é mais interessante ao se ler “Superman Crônicas”, porém, são as mutações que este arquétipo sofre no decorrer do desenvolvimento do personagem, e que revelam como nos apropriamos e hiperdimensionamos os conceitos de “super”, “homem” e “herói” de maneira que o original não previa. O Superman de Siegel e Shuster é um produto dos anos 30, ao mesmo tempo herdeiro das reformas de Roosevelt e do avanço da cultura americana como modelo para o mundo. No caso do cinema, é o momento em que os conglomerados de distribuição mundial ganham força, e políticas de boa vizinhança são instauradas. Os gêneros clássicos do cinema falado ganham corpo e presença, e passam a formatar os códigos comuns de várias linguagens culturais. O western se torna o gênero mais popular da época, e seria justamente o responsável pela criação de uma mitologia americana, contando e formatando as origens daquele povo. Os super-heróis surgem dentro deste imaginário, e refundam esta mitologia sob o prisma das então modernas indústrias culturais.

Fanfarrão
O Superman dos anos 30 se parece com um caubói. Mesmo fisicamente. Lembra uma mistura de Clark Gable com John Wayne. O cabelo, poderíamos atribuir ao protótipo de todos eles, Douglas Fairbanks, astro de inúmeros filmes de capa e espada. Porém, são as atitudes do personagem nestas primeiras histórias que lembram melhor o que significava ser um herói nos anos 30. A tríade básica da mitologia está lá: Superman é ao mesmo tempo Clark Kent, um repórter eficiente, justo, mas tímido e covarde, completamente abobalhado diante da colega repórter Louis Lane, retratada aqui como uma biscate sem caráter e sacana, mas ao mesmo tempo astuta e “investigativa”. É apaixonada pelo herói, mas desdenhosa de seu inadequado alterego. Imagino que talvez Louis Lane tenha sido a invenção deste estereótipo, tão repetido em filmes e gibis, feminista e machista ao mesmo tempo. Porém, o senso de justiça desta fase do herói, sempre descrito como uma grande invenção de Siegel, era muito adequado aos valores de outros produtos culturais da época. Tratava-se de um olhar atento aos reais problemas sociais, fruto do new deal; e uma atitude impetulante e arrogante de superpotência crescente, “direito divino” dos Estados Unidos em aplicar o senso moral “correto” da maneira que bem entendesse.

Biscate

Justiça social e fanfarronismo

Essa coisa ambígua se refletia no jeito que Superman resolve seus desafios. Da mesma forma que os caubóis (intermediários entre a civilização crescente e a selvageria natural de todo western), ele é um tipo rude e impaciente, fanfarrão e porradeiro, bem diferente do modelo apolíneo a que estamos acostumados a associá-lo (o escoteiro puritano). São várias as cenas em que o herói arremessa os bandidos de prédios ou para longe, sempre fazendo comentários cínicos, agressivos: “Desculpa, mas foi você quem pediu!”, “Sou alguém que odeia ardorosamente a sua pessoa!”. Da mesma forma, ele é um agente impiedoso e ensandecido de destruição: chega a trucidar fábricas de automóveis para impedir que se aumente o índice de atropelamentos, ou a destruir favelas para que os governos sejam obrigados a realizar reformas que impeçam o aumento da criminalidade. Suas entradas em cena são sempre bombásticas: destruindo vidros, arrebentando portas, virando carros. Se o tipo “valentão” (bully) é um dos maiores vilões sociais nos dias de hoje, podemos ver que nos anos 30 ele era um modelo de heroísmo.

Porém, esse jeito pouco ortodoxo ou “caubói” (vejam bem que o caubói é um fora-da-lei de bom coração, que realiza a justiça que a lei não alcança) de ser tinha implicação profunda nas aspirações dos Estados Unidos enquanto difusor (agressivo) de uma cultura global padrão, e especialmente enquanto força de guerra, já que estamos falando de um período à beira da Segunda Guerra Mundial. O alistamento dos soldados e a colaboração da população em terra natal (especialmente mulheres e crianças) eram atitudes que não podiam deixar ambigüidades. O cinema, os quadrinhos e toda indústria cultural serviram como força motriz para este processo. Basta lembrar que vários aviões da força aérea americana tinham o “azulão” ou o Capitão América pintados em suas superfícies.

Métodos "pouco ortodoxos"
Este modelo diferente de Superman tinha uma interessante aplicabilidade social, que nos faz refletir sobre para quão distante do nosso próprio mundo o universo dos super-heróis se afastou, enquanto, em sua origem, ele alertava para problemas bem reais. Diante da ausência da figura do supervilão, Superman dá cabo (em sua maneira tosca e até... anti-heroica) de: magnatas do tráfico de armas, torturadores, estupradores, empresas que exploram seus trabalhadores, capatazes de prisões em péssimas condições, falsários que vendem ações de petróleo falidas. De certa maneira, este mapeamento do universo do new deal que as histórias do herói traziam parecem ainda dizer mais sobre nossa própria época do que suas histórias contemporâneas.

A diferença é que, para resolver os problemas, Superman adota uma espécie de código “olho-por-olho, dente-por-dente” bastante associado ao esforço do puritanismo protestante tão presente na era clássica da cultura industrial americana: para “punir” o industrial que dá péssimas condições aos seus mineiros, Superman cria um esquema para prendê-lo, junto com outros grã-finos, dentro de uma mina, deixando-os se virarem sozinhos para sair. Da mesma forma, para “punir” o magnata da indústria bélica, Superman o obriga a alistar-se no front, para que possa vivenciar os horrores da guerra e se arrepender. Na história mais absurda de todas, Clark Kent compra dos falsários todas as ações falidas de um poço de petróleo inativo, para depois, com seus poderes de Superman, escavar a terra e ativar o poço, revendendo as ações para eles, para logo depois destruir os poços e trazer mais algum tipo “lição” torta, quase inexplicável. Esta “doutrina de correção punitiva” parece uma mistura de judaísmo primitivo, do velho testamento, com a força moral do puritanismo. Certamente muito convicente no empenho de reconstrução de um país ou de um esforço de guerra.


As histórias originais do Superman, e despeito dessas ambiguidades, possuem grande valor cultural, e entusiasticamente traziam o conceito de heroísmo para uma causa do povo (mesmo que fosse só o povo americano). Como o arquétipo “super” acabou sendo usado como propaganda de guerra, é natural que estes valores tenham se deturpado no decorrer dos anos 40, até que a cultura do gênero morresse para dar chance a um “realismo” mais brutal e sanguinário: quadrinhos de crime, horror e guerra da EC Comics. O arquétipo “super” só ressurgiria após o macartismo e censura às HQs nos anos 50, quando sua vitoriosa forma “light” seria concebida pela Marvel nos anos 60. Vale comentar, porém, que a forma “light” se enclausuraria num universo próprio e fechado, cada vez mais fazendo referência apenas a seu “mundo paralelo”, virando entretenimento puro.

Em uma das histórias de “Superman – Crônicas”, um charlatão tenta lucrar com a fama do herói, acreditando que ele fosse apenas uma lenda. Ele então patenteia direitos de comercialização da imagem de Superman, vendendo cereais, carros e até gasolina com a marca do herói. Até que chega o momento em que este “agente” procura vender para o jornal (então “Estrela Diária”) uma entrevista com o próprio Superman, que acabaria sendo realizada pelo repórter Clark Kent. No final das contas, é claro, Superman dá umas boas pancadas nos falsários, elucidando-os sobre os perigos da capitalização extrema das notícias, dos cidadãos, do heroísmo. Vista com o distanciamento de quase 80 anos, esta história parece uma ironia perdida no tempo. Um tipo como Superman obviamente nunca existiu, mas aquele mundo de mafiosos, picaretagens e extorsões continua bem vivo. A imagem do personagem descambou para capitalização extrema, e o mundo dele acabou se tornando uma mistura maluca de pseudo-futurismo, fantasia e delírios intergalácticos que pouco lembra o nosso. Fica a lição. Vamos torcer para que Grant Morrison se lembre dela. 


Crazy bastard

Nudez, sexo e fúria: novo livro de Roger Cruz






















por Pedro Brandt

O álbum Xampu, lançado em 2010, foi o ponto de partida para projetos pessoais nos quais o desenhista Roger Cruz vem trabalhando há alguns anos. Depois de nos contar mais sobre a produção da HQ lançada no ano passado, o paulistano volta às páginas de Raio Laser para falar de seu pimeiro artbook, Nudes in fury.

Como você apresenta o Nudes in fury?

O Nudes in Fury é um artbook que tem como temas nudez e sexo. É uma seleção das melhores artes que produzi sobre esses temas nos últimos dois anos, desde que parei de trabalhar com super-heróis. Na maioria das artes, inseri a nudez e o sexo em alguma situação cômica. Não pretendia que fossem apenas belas poses de nu ou sexo explícito, algo que se vê em ensaios fotográficos.


Quem está lançando? Ou é independente?

O livro é independente com tiragem de 500 exemplares. Um outro artbook com um resumo da minha carreira já está quase pronto, mas resolvi lançar o Nudes primeiro por ter 40 páginas e um custo menor. O Roger Cruz artbook terá de 80 a 100 páginas e também será independente.

O que você pode comentar sobre a produção, as técnicas usadas, os materiais...

Nestes últimos dois anos, fiz e ainda tenho feito muitas experiências sobre estilo, técnica e tratamento gráfico. Utilizei diversos materiais neste livro. Pincel, canetas descartáveis coloridas, hidrográficas, arte-final e cor digital e bico de pena.

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Quais os seus autores de quadrinhos eróticos favoritos? Por que eles?

Gosto muito dos trabalhos do Horacio Altuna pela arte e qualidade da narrativa. Também gosto dos livros do Serpieri e Manara mas, nesse caso, mais pelas belíssimas artes. E também Jaime Martin e Watson Portela. O trabalho do Watson é incrível e faz parte das minhas lembranças mais antigas sobre HQ erótica.

Você fez alguns quadrinhos eróticos no começo da carreira, certo? É um gênero de quadrinhos que você tem interesse em revisitar - no caso, com HQs, não apenas com ilustrações, que é o caso de Nude in fury?

Sim. Trabalhei escrevendo e desenhando catecismos para a Editora Vidente, onde conheci pessoalmente o Watson Portela e o Sebastião Seabra. Gosto e ainda pretendo fazer HQs sobre o gênero. Qualquer ser vivo gasta boa parte de seu tempo e energia na busca pela oportunidade de fazer sexo. Nudez, sexo e sacanagem são coisas relevantes.

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Como você avalia a repercussão de Xampu?

Não poderia ser melhor. O álbum recebeu ótimas críticas tanto pela arte como pelo roteiro. E foi interpretado como eu desejava que fosse, o que para mim era o mais importante. A história de alguém é quase nada vista de longe, mas pode ser uma grande história olhando de perto. Espero ter feito homenagem à altura para aqueles que inspiraram as histórias do Xampu.

Alguma novidade sobre a continuação da série?

Ainda não tenho previsão para a continuação por falta de tempo mesmo.

Qual o seu projeto atual? Você está trabalhando em alguma editora no momento? E qual o seu próximo projeto?

Atualmente, trabalho como ilustrador para algumas editoras brasileiras. Estou também  trabalhando no fechamento do Roger Cruz artbook e produzindo artes no tempo livre para outro artbook. Mas primeiro vamos ver como se sai o Nudes in fury.


Lançamento Nudes in Fury

Data: 23 de Julho de 2011
Horário: 19h
Local: Quanta Academia de artes (Rua Doutor de Queirós Aranha, 246, Vila Mariana, São Paulo)
Preço de lançamento: R$ 30
Venda somente para maiores de 18 anos

História de um sobrevivente






















por Pedro Brandt

Quando Gen — Pés descalços foi publicado no Brasil pela primeira vez, em 1999, o boom dos quadrinhos japoneses ainda não tinha chagado às bancas do país. Passados 12 anos, a obra de Keiji Nakazawa continua como um dos melhores mangás já lançados por aqui. Sucesso no Japão, onde foi transformado em desenho animado, três filmes e série de tevê, a obra criada por Nakazawa é um clássico que continua a encantar leitores. Os quatro volumes nacionais da série estão fora de catálogo há algum tempo. Mas o primeiro deles acaba de ser republicado pela Conrad Editora, com nova capa e, desta vez, no sentido oriental de leitura.

Lançado em capítulos entre 1972 e 1973, na revista Shonen Jump (cujo público alvo são adolescentes do sexo masculino), Gen é inspirada na biografia do autor. Natural de Hiroshima, Nakazawa (hoje com 72 anos) é sobrevivente do ataque americano que jogou a bomba atômica sobre a cidade. Neste primeiro volume em especial, boa parte da trama se passa antes do fatídico 6 de agosto de 1945 (dia do bombardeio).

Gen é o quarto dos seis filhos de uma família humilde, os Nakaoka. Seu pai é contra a Segunda Guerra Mundial por acreditar que o conflito não levará a nada e que os mais pobres são os que sofrem com ele. Além do perigo iminente dos ataques aéreos, a população vive sob racionamento de comida. Para piorar, o Sr. Nakaoka é vítima de preconceito por se opor à guerra. É tachado de antinacionalista por quase todos que o cercam. Isso faz com que até uma tigela de arroz lhe seja negada. Os meninos são constantemente apedrejados na rua. O filho mais velho sofre humilhações na fábrica onde trabalha. E a filha, no colégio. Tudo isso é fruto do sentimento incutido pelo império japonês na nação com uma maciça propaganda militarista.

Nasce um herói

Diante de todas as dificuldades, Gen é uma criança feliz. O pai molda seu caráter para se tornar um homem honesto, justo, que não se dobra diante das intempéries. Não à toa, o subtítulo do volume um é O nascimento de Gen/ O trigo verde, ambos fazendo alusão à formação do protagonista como herói. “O trigo pisoteado produz raízes fortes, que se encravam na terra e permitem que ele cresça alto e resistente, capaz de suportar geadas, vento, neve…” é a primeira fala da HQ.

Mais do que os grandes dramas e as pequenas alegrias de Gen e sua família, o mangá também apresenta uma série de críticas que não perderam a validade. A maior delas é a respeito do combate bélico. Uma mensagem humanista e pacifista permeia a história. Além disso, Keiji Nakazawa não deixa de comentar a maneira cega como os japoneses abraçaram o ideário do governo do país naquela época, que colocava o imperador como uma entidade divina a ser obedecida e venerada a todo custo — com o sacrifício da vida se fosse necessário. Isso causou nas pessoas um sentimento que misturava impotência diante da guerra com um arreigado preconceito contra quem não compactuasse com as imposições.


Para dar uma amenizada em assuntos tão pesados, Nakazawa insere elementos cômicos que dão alguma leveza à narrativa. Um bom exemplo é o pequeno Shinji, o levado irmão mais novo de Gen. Ainda que tenha sido publicado numa revista voltada para o público jovem, Gen — Pés descalços é uma história em quadrinhos forte, que pode chocar muitos leitores. As cenas de pessoas derretendo sob efeito da bomba atômica são violentas. Até porque os desenhos do autor têm uma certa fofura que torna as cenas ainda mais impactantes. O primeiro volume da série termina justamente no 6 de agosto de 1945. Gen, que achava que levava uma vida dura, mal sabe o que lhe espera a partir do dia seguinte.



GEN - PÉS DESCALÇOS
De Keiji Nakazawa. 280 páginas. Conrad Editora. R$ 24,90.

HQ em um quadro: primeira visão da suástica nazista, por Art Spiegelman





















"Foi a primeira vez que vi, com meus próprios olhos, a suástica" (Art Spiegelman, 1986): Por motivos de uma demanda de sala de aula (disciplina: "Literatura e Narrativas Modernas"), precisei reler MAUS, a obra máxima de Spiegelman, e este é sempre um ato de redescoberta, como diz Calvino: "Toda releitura de um clássico é uma leitura de descoberta como a primeira". O que me chamou atenção nesta releitura, especificamente para esta seção, entretanto, não foram os inúmeros requadros formidáveis desta HQ. Spiegelman obviamente elabora a trajetória de seu pai no holocausto (e a sua própria, na tentativa de compreender o pai no "presente") com alto grau de metalinguagem, várias camadas interessantes de narração e enunciação, fronteiras difusas e intrigantes entre a memória, a ficção e o documental - enfim, tudo aquilo que torna esta obra uma expressão máxima dos quadrinhos. 

Conforme eu dizia, desta vez um quadro mais sóbrio me chamou a atenção, exatamente porque se tratava de uma releitura. Como eu já sabia o que se passaria na visão brutal e realista do holocausto contada por Vladek Spiegelman, o requadro aberto na página 34 da edição da Cia.das Letras (que traz os dois volumes juntos) irrompeu-se sobre minha leitura monótona como um calafrio que chega sem aviso, antecipando o horror em flashfoward. Vladek está indo de trem à Tchecoslováquia para procurar tratamento psiquiátrico para sua jovem esposa Anja. Ao passar por uma cidadezinha, seu discurso quase técnico e referencial também nos pega de surpresa ao narrar, no requadro panorâmico que fecha a página, as seguintes legendas: "Era o começo de 1938, antes do guerra. No meio da cidade, tinha bandeira nazista. Foi a primeira vez que vi, com meus próprios olhos, a suástica".

Spiegelman (o filho) dá um certo ar cinematográfico ao quadro, posicionando-o como um plano subjetivo, tentando situar-nos também dentro do vagão, vendo a bandeira nazista tremulando fora da janela junto com os outros "ratos" judeus. O impacto é grande porque a suástica nazista é um símbolo que se tornou referência da gramática do século 20, e agrega uma torrente de significados para a compreensão do homem contemporâneo. Porém, o espanto que esse requadro carrega é de estranhamento e vaticínio. Vladek jamais vira o símbolo nazista ("como pode?", é a reação precipitada, meio irracional), e ele seria sua ruína, conforme as outras 262 páginas da história nos informarão. (CIM)

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Corto Maltese, amigo dos cangaceiros






















por Ciro I. Marcondes

Nosso país tem a capacidade peculiar de impressionar os estrangeiros, e algumas visões muito famosas foram descritas e registradas por autoridades intelectuais históricas, e outras nem tanto. Basta lembrar que Charles Darwin passou mais de um mês viajando pela costa do Brasil no Beagle, a partir de fevereiro de 1831, e isso foi declaradamente importante para que ele tivesse aquele estalo para pensar a teoria da evolução. Darwin também ficou positivamente chocado com a cultura do escravismo e a relação de passividade que ambos os lados nutriam com este sistema econômico, e ele não seria o último a pensar o Brasil como algo exótico não apenas no que diz respeito à nossa diversidade natural.

O antropólogo Claude Lévi-Strauss (lembrado por ter sido meio que sacaneado por Caetano Veloso), esteve no Brasil quase um século depois (1935-39 - vale ler o romance Nove noites, de Bernardo Carvalho, que menciona o caso), no alto Xingu, e enfatizou que tornou-se cientista de verdade no Brasil. Seu trabalho sobre estudos de parentesco e mitologia a partir de povos indígenas brasileiros ainda é referência mundial em antropologia. De alguma forma ainda meio miraculosa e errática para nós, algumas peculiaridades de nossa cultura continuam fazendo parte do “incognoscível” para os gringos. Lembro do show do REM em 2001 no Rock in Rio, quando o vocalista Michael Stipe disse, com provável sinceridade, que o Rio de Janeiro era a cidade “mais sexy” em que ele já havia estado. Os casos, independente da relevância, são numerosos.

Mas o que me deixa realmente feliz nesse panorama é o fato de um sujeito não-científico, verdadeiramente errante e multicultural – o gênio solto e plural dos quadrinhos Hugo Pratt, precursor de Clint Eastwood e o escambau – tenha não apenas dedicado parte de sua arte para debulhar as particularidades do Brasil, como também tenha efetivamente morado por aqui no início dos anos 60 e – dizem (e porque não alimentar lendas legais?) – teve uma filha índia por aqui. Pratt, bem diferente dos estereótipos de tipos inadequados e esquisitos de quadrinistas, era viajante indevassável, tendo morado em mais de 10 países diferentes, em todos os continentes.


Exemplo da espetacular habilidade de Pratt em narrativa
gráfica. Clique para ampliar
É por isso me cabe uma análise do volume com as histórias de seu alterego Corto Maltese no Brasil, republicadas pela Pixel em 2006 na edição “Sob o signo de Capricórnio”. Pratt não apenas reverte o andamento das publicações anteriores do famoso pirata italiano - trazendo a logística do prequel (estas histórias se passam antes da clássica “Balada do mar salgado”) à HQ moderna – como procura fazer um investimento sincero e dedicado à cultura brasileira (além de outras culturas do “trópico de capricórnio”, como a antilhana e das guianas). Ele não apenas realiza pesquisa acurada sobre a fisionomia e hábitos culturais de nossos povos, como procura fazer um tipo especial de desvelamento artístico dos segredos dos nossos signos, buscando com obsessão a condição de insider. Pratt não procura o olhar naturalista e socialmente horrorizado de Darwin, e nem o objetivo da produção de uma etnologia, caso de Lévi-Strauss. Por mais confusa e culturalmente inexata que seja, a visão do quadrinista veneziano sobre o Brasil é uma das mais apaixonadas e apaixonantes com as quais já tive contato, sendo capaz de entusiasmar mesmo o leitor brasileiro.

"O mundo em que vivemos, felizmente, é limitado"



Para o leitor neófito, vale contextualizar Corto Maltese. Nos anos 50, Pratt passou longo tempo publicando na Argentina, em séries memoráveis (conforme já mencionado em RL) que foram fundamentais para elaborar sua visão humanista, e o personagem Corto surgiu já no fim deste período. Pode-se dizer que, como o célebre Guido de Mastroianni no 8 ½ de Fellini, ou Sal Paradise para Jack Kerouac, Corto representa um autêntico alterego para Hugo Pratt. Filho de uma cigana pintada por Ingres e um marinheiro escuso, o abastardado Corto é uma figura sóbria e evanescente, viajando por américas, antilhas, áfricas e pacíficos ainda capazes de iluminar nosso faro para o lendário e o fascinante, em consonância com a chegada da modernidade e as guerras. São aventuras no último período romântico deste planeta, antes que o essa febre global de consumo e conectividade matasse nossa matriz mítica.   
    
Publicadas entre 1970 e 1973, estas histórias curtas de Corto no Brasil recuam no tempo em relação à Balada do mar salgado, e colocam o marinheiro soturno e mercenário ao lado do jovem herdeiro britânico Tristan Bantam e do intelectual alcoólatra Steiner, em princípio na Guiana Holandesa (hoje Suriname), partindo depois para aventuras que desembocam em Salvador, depois na praia de Itapoã e finalmente no sertão da Bahia, próximo de onde haviam ocorrido as antigas revoltas de Canudos. Vale pensar que Corto Maltese é uma HQ de força gráfica e narrativa, legítima arte de movimento e ação, mas não se esquiva de compor tudo isso com textos numerosos e por vezes prolixos, com rico detalhismo geográfico, cultural e histórico. Pratt era mestre tanto no preto-e-branco (nanquim) quanto com as cores (guache) e seu traço esteve sempre a serviço das expressões profundas ou impactadas de suas enormes e variadas galerias de personagens.

Em Sob o signo de Capricórnio, Tristan Bantam é levado à Bahia já por meio de um encantamento sobrenatural: ninguém menos que o orixá Ogum Ferreiro o convoca  até sua meia-irmã (negra e brasileira) Morgana, iniciada nas práticas do oculto junto a figuras igualmente sedutoras do ponto de vista do misticismo, como a legítima “preta velha” Baianinha e a líder espiritual Boca Dourada. Pratt se atropela um pouco ao fazer de seu Brasil mítico um pardieiro de crenças exóticas, mas que no fundo manifestam charme e até integridade. Sua aproximação do candomblé brasileiro com o vodu antilhano acontece com um recurso da própria narrativa: o povo ancestral e desaparecido de Mû, que une não apenas todos estes traços da colonização americana como inclui todo um contexto da cultura Asteca, jogando também a América do Norte no balaio. No fim das contas, jogos de Tarot, caveiras mexicanas e até “sabedorias” do jogo de pôquer são alinhados para tentar fazer deste conjunto de personagens um vulto respeitoso, sábio, dominador da “magia negra” (quando o termo ainda não era politicamente incorreto e nem denotava conluio com o capeta).

Uma das cenas mais interessantes deste arco de histórias é justamente aquela que enquadra o leitor à visão cética dos personagens – Corto, bem cínico, incluso –, quando Tristan Bantam, hospedado na grande casa de sua irmã Morgana e examinando as anotações de seu pai (pesquisador de Mû) é transportado, tal qual numa viagem de psicotrópicos fortes, a um ambiente metafísico rodeado de totens parecidos com aqueles próximos à cidade Cuzco, no Peru. Lá, ele trava encontros profanos a partir de desdobramentos no espaço-tempo, consigo mesmo e com entidades antigas, de culturas milenares, que unem Mû à Atlântida, ao imaginário Asteca e a outros motivos do incognoscível. A partir do ceticismo pragmático de Corto, Pratt não revela a natureza exata deste conhecimento místico, e as lacunas que são deixadas aos personagens são as mesmas que são deixadas ao leitor, o que, ao menos me parece, é a melhor maneira de explorar essa estranha fronteira no mundo da arte. Vale citar as palavras do Professor Steiner, verdadeiro produto de literatura: “Tristan, o mundo em que vivemos, felizmente, é limitado. Bastam poucos passos para sair do quarto, poucos anos para sair da vida, mas suponhamos que nesse pequeno espaço, de repente obscuro, nós tenhamos nos perdido, ficado cegos... Então, tudo parecerá enorme e nosso quarto, grande, incrivelmente grande, a ponto de parecer impossível...”.


Por fim os aventureiros são levados ao sertão da Bahia, a mando de Boca Dourada - que reune as funções de feiticeira-mor, possível imortal, líder espiritual e política de várias comunidades destes “tristes trópicos” – para encontrar o bando cangaceiro de Tiro Certeiro, herdeiro do líder revolucionário Sebastião, O Redentor, assassinado pelos soldados do Coronel Gonçalves. Este script, tão reconhecidamente brasileiro, surpreende não só pela elegância da apresentação dos fatos, mas também pela caracterização precisa, física e psicológica, do tipo brasileiro e nordestino do início do século XX. Pratt não perde a chance de demonstrar erudição ao fazer citações a Glauber Rocha, à revolta de Canudos e ao bando de Lampião. Mais do que simples menções generalizantes sobre culturas “exóticas”, o que o quadrinista veneziano faz é pensar esses sincretismos todos em prol daquilo que move Corto Maltese em sua característica primordial: a liberdade de ir e vir, a liberdade de se manifestar.

Pratt não faz julgamentos sobre o conteudo original do conhecimento místico dos baianos, e tampouco faz sua leitura do cangaço como um movimento de banditismo. Em sua concepção, estas histórias locais são desdobramentos da liberdade de se pensar e agir humanos, e por isso ele provoca o leitor ao suceder, à morte de Sebastião e depois à de Tiro Certeiro, a nomeação do um menino chamado Corisco como futuro líder da revolta. Tudo isso garante ao galante pirata o epíteto de “amigo dos cangaceiros” nas palavras do pequeno líder. No final da história, ao ser questionado se achava que o menino chegaria a lutar contra os governadores do sul, Corto Maltese responde: “Pode ter certeza. E depois dele haverá outro, e outro ainda, até que eles se libertem e alcancem a justiça... não podem mais voltar atrás!” Como se pode ver, Hugo Pratt parecia saber mais sobre o Brasil do que a maioria dos brasileiros.


Publicado pela primeira vez em EmQuadrinho

Mistérios da Garra


por Pedro Brandt

Em 1937, a série A Garra Cinzenta dividia espaço com as aventuras dos personagens Fantasma e Super-Homem no suplemento infantil Gazetinha, do jornal paulistano A Gazeta. A popularidade da criação do roteirista Francisco Armond e do desenhista Renato Silva era tanta que, em 1939, depois de publicados todos os 100 episódios, a série foi relançada em dois volumes. 

Com o passar dos anos, o culto ao redor de A Garra Cinzenta só aumentou. E também o mistério a respeito da HQ brasileira (considerada a primeira no país e ter elementos de terror). Algumas perguntas permanecem sem resposta. Por que, mesmo popular entre os leitores, a série foi interrompida abruptamente? E, afinal, quem foi Francisco Armond? 

Garra Cinzenta, edição de luxo e fac-similar que a Conrad acaba de colocar nas livrarias, não responde essas perguntas. Mas faz justiça a um título que marcou época, virou xodó de colecionadores e, mesmo tendo sido republicada em mais duas ocasiões (somente a primeira parte, em 1975, e em tiragem limitada e completa, em 1998) e estar disponível para download em vários sites, estava há muito fora de catálogo.

Na nova edição, as 100 páginas da história são antecedidas por um informativo prefácio do pesquisador das histórias em quadrinhos Worney Almeida de Souza. A leitura ajuda a entender o contexto em que A Garra Cinzenta foi publicada (quando São Paulo, ainda uma cidade tranquila, almejava se tornar uma grande metrópole) e suas repercussões. “À época, seu sucesso foi tão grande que ultrapassou as fronteiras do país, e A Garra Cinzenta chegou a ser publicado até na Europa. Na França e na Bélgica, graças à revista Le Moustique, o personagem ficou conhecido como Griffe Grise. E, segundo alguns estudiosos, teria influenciado diretamente diversos personagens de HQs internacionais, como o Blazing Skull (Caveira Flamejante) da Marvel e os italianos Kriminal e Satanik", comenta Worney.

Renato Silva (1904-1981) foi desenhista atuante em diversas áreas, entre elas, os quadrinhos. Um de seus trabalhos mais conhecido são as ilustrações do livro Cazuza, clássico da literatura infanto-juvenil brasileira escrito por Viriato Corrêa. Sobre Francisco Armond, Worney conta que a única certeza é que se tratava de um pseudônimo. A principal “suspeita” é a jornalista carioca Helena Ferraz de Abreu (1906-1979). “Quanto a ela nunca ter assumido tal autoria, a explicação estaria no fato de que havia não só o preconceito contra os quadrinhos, mas também o preconceito maior ainda contra mulheres que escrevessem tal coisa”. O estudioso conclui seu texto com a esperança de que com a publicação do álbum, o mistério chegue finalmente a um desfecho.




Vilão carismático


A Garra Cinzenta é inspirada na literatura pulp e nos filmes noir americanos, bastante populares também no Brasil daquela década. Na trama, os policiais Higgins e Miller investigam uma série de assassinatos praticados por alguém que deixa no local dos crimes um cartão com a estampa de uma garra cinzenta. O facínora, ou “scelerado”, como muitas vezes o Garra Cinzenta é chamado (a edição da Conrad mantém o português da época), se veste com chapéu, capa, blusão com o desenho de ossos cruzados e uma máscara de caveira. Mais do que o visual, são seus planos ardilosos, escapadas inacreditáveis, personalidade manipuladora e ambiciosa (e um tanto cômica) que fisgam o leitor — até porque os heróis da série não passam de arquétipos sem charme. 

A isso se soma uma história ambientada em cemitérios, túneis, casas de ópio, laboratórios, becos e esconderijos. Tiroteios, lutas, mulheres fatais, poção de vida eterna, múmias, monstro mutante e até um robô (ou “autômato”, batizado de Flag) são alguns dos elementos presentes que ajudam a entender o fascínio que A Garra Cinzenta exercia nos leitores de ontem. Os de hoje precisarão de algum desprendimento para se divertir, afinal, trata-se de uma HQ feita há mais de 70 anos — mas que, justamente por todos os seus disparates, acaba ganhando um encanto a mais. Independente disso, a publicação é inestimável justamente por jogar luz em cima de um episódio importante da história das histórias em quadrinhos no Brasil.





GARRA CINZENTA: De Francisco Armond e Renato Silva. 128 páginas. Conrad Editora. R$ 39,90.

Texto publicado originalmente no Correio Braziliense.