Plágio ou Homenagem? O vantajoso e tradicional “empréstimo” de personagens feito por Marvel e DC

Plágio ou Homenagem? O vantajoso e tradicional “empréstimo” de personagens feito por Marvel e DC

Nada se cria e tudo se copia. Essa máxima é verdadeira também nos quadrinhos. Partindo-se da premissa de que tudo que é criado foi inspirado por uma referência anterior, pode-se afirmar que qualquer gibi que tenhamos nas mãos dificilmente será produto 100% original, já que é fruto das diversas influências absorvidas pelos autores. Agora, existem influências e influências. Algumas delas vão além da simples homenagem. Há histórias e personagens copiados – na cara dura – de outros que vieram antes. E nem mesmo as grandes editoras de quadrinhos norte-americanas, DC e Marvel, estão livres disso, muito pelo contrário.

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ENSAIOS LOVECRAFTIANOS

ENSAIOS LOVECRAFTIANOS

A coisa mais misericordiosa do mundo, ao meu ver, é a inabilidade da mente humana em correlacionar todos os seus conteúdos. Vivemos em uma plácida ilha de ignorância em meio a obscuros mares de infinidade, e não nos é possível viajar muito longe. As ciências, cada uma se esticando em sua própria direção, pouco nos afetaram até agora; mas algum dia o agrupamento deste conhecimento dissociado irá abrir visões tão aterrorizantes da realidade, e de nossa assustadora posição nela mesma, que iremos ou padecer da loucura oriunda da revelação, ou fugir da luz em direção à paz e segurança de uma nova era das trevas.

Assim, desta maneira intrigante e oracular, começa o conto/novela O Chamado de Cthulhu, escrito por Howard Phillips Lovecraft em 1926 e publicado na revista pulp Weird Tales em 1928. Famoso, esse parágrafo dá conta de muito do que se associa à literatura lovecraftiana, que se tornou base para o culto cada vez mais crescente ao gênero do terror, seja no cinema, nos quadrinhos, em games ou nos próprios contos e romances. O que há ali que já nos prenuncia uma ambientação psicológica típica da originalidade deste autor tão singular?

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Sabrina: desolação e paranoia made in USA

Sabrina: desolação e paranoia made in USA

Tomei conhecimento do trabalho do norte-americano Nick Drnaso há alguns dias, por causa de uma matéria na revista New Yorker . A princípio achava que ele era mais um Chris Ware wannabe, mas fiquei bastante curioso para ler seu último álbum, a graphic novel Sabrina (Drawn and Quarterly, 2018). Impulsivo – eufemismo para consumista – como sou, encomendei o gibi, que devorei rapidamente. A compra valeu a pena. A leitura foi inquietante, para dizer o mínimo. Sabrina conta a história de uma garota que desapareceu. Seu namorado, desconsolado, vai morar com um amigo em Chicago, enquanto tenta superar o acontecimento. Outra personagem é a irmã de Sabrina, que teve de segurar – praticamente sozinha – a barra com o sumiço. À medida que os fatos se desenrolam, Nick aumenta o alcance da lupa que coloca sobre cada um dos protagonistas. Existe uma sensação de desconforto latente que só aumenta durante a – lenta – narrativa. 

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Um Drácula de Mignola

Um Drácula de Mignola

por Márcio Jr.

Se em 1992 a recepção da crítica para Drácula de Bram Stoker foi ambígua, passado mais de um quarto de século a película de Francis Ford Coppola adquiriu status de filme de culto. Não é para menos. Abrindo mão de quaisquer efeitos especiais computadorizados, a obra é uma homenagem aos primórdios do cinema, com seus jogos de espelhos, trucagens analógicas e direção de arte embasbacante. Hoje, a iconografia do longa divide o imaginário do público com as versões do Príncipe dos Vampiros encarnadas por Bela Lugosi e Christopher Lee. Atestado inconteste da potência visionária de Coppola.

Aproveitando o lançamento do longa, a Topps Comics rapidamente colocou em produção uma adaptação em quadrinhos, reunindo uma equipe de primeira linha. No roteiro, ninguém menos que o veterano Roy Thomas. E na arte, um astro em franca ascensão: Mike Mignola. Completando o time, John Nyberg (arte-final) e Mark Chiarello (cores). Publicada como uma minissérie em 4 edições, a HQ logo saiu de catálogo, tornando-se, ela também, um objeto de culto. Somente em 2018 a série foi reunida em luxuosa edição pela IDW Publishing, ganhando versão nacional pela Mino.

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Charles Schulz no divã: exposição Good grief, Charlie Brown! Celebrating Snoopy and The Enduring Power of Peanuts

Charles Schulz no divã: exposição Good grief, Charlie Brown! Celebrating Snoopy and The Enduring Power of Peanuts

Quem estreia em colaborações na Raio Laser é o não menos que excepcional Bruno Porto, que vem dialogando com a gente já de longa data, e que agora nos presenteia com essa caprichada resenha dessa incrível exposição sobre Charles Schulz em Londres. (CIM)

Bruno Porto é designer, professor e consultor. Atuou como curador da 12ª e 10ª Bienais Brasileiras de Design Gráfico (2017 e 2013) e de uma dúzia de exposições de artes gráficas montadas em países da  América do Sul, Ásia e Europa. Tem livros e textos publicados sobre design gráfico e recentemente vem pesquisando o assunto no âmbito das Histórias em Quadrinhos. Atualmente integra o GIBI - Grupo de Estudos de História em Quadrinhos do Programa de Pós-Graduação da Faculdade de Comunicação da Universidade de Brasília – UnB e os Conselhos Consultivos da ADG Brasil e do Comitê Tipos Latinos. Nascido e criado no Rio de Janeiro, já morou em Nova York, Xangai e Brasília, e atualmente vive na Haia.

por Bruno Porto

A primeira exposição na Inglaterra da obra do cartunista estadunidense Charles Schulz (1922-2000) — realizada de 25 de outubro a 3 de março de 2019 na Somerset House em Londres — tem utilizado como principal mote promocional a apresentação em paralelo de originais das tiras Peanuts com obras de vinte artistas plásticos contemporâneos inspirados pelo trabalho do criador de Snoopy e cia. Apesar das reflexões interessantes geradas por estes dois chamarizes - que procuram conectar a tira iniciada em 1950 com a produção artística do século XXI - o que se destaca na montagem é a compreensão do pioneirismo de Schulz em abordar nas suas tiras diárias tópicos de extrema relevância nos dias de hoje, como racismo, feminismo e religiosidade.

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Viagem ao país dos fumetti

Viagem ao país dos fumetti

Pouco mais de quatro meses atrás fui transferido para Roma, por motivos profissionais. Na hora em que comecei a tomar todas as providências práticas para a mudança ainda não tinha me dado conta, mas pouco antes de embarcar caiu a ficha de que estava prestes a morar numa das mecas do quadrinho na Europa. Sim, para quem não sabe, a cultura de quadrinhos na Itália é uma tradição estabelecida já há várias décadas. Fumetti – que é como os quadrinhos são conhecidos por aqui – são uma forma de arte largamente disseminada e é possível encontrar pessoas de todos os tipos consumindo e lendo em tudo quanto é lugar, especialmente nos meios de transporte. Aos poucos fui percebendo que tinha tirado a sorte a grande. O país é realmente um paraíso para os apreciadores da nona arte.

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Sobre guardiões, naturalistas e policiais: Seton e Guardiões do Louvre

Sobre guardiões, naturalistas e policiais: Seton e Guardiões do Louvre

A imagem que abre este texto é uma reprodução de uma pintura de Ernest Thompson Seton. A pintura é intitulada A Vitória do Lobo. Essa pintura, e sua figuração mórbida e chocante, foi reprovada pela curadoria do Grande Salão de Paris, em 1892. De nada adiantou mudar o título para Aguardando em Vão, na expectativa de que uma dose de ambiguidade pudesse convencer os júris de que aquela agourenta imagem de um lobo roendo um crânio humano acompanhado de uma despojada alcateia pudesse representar algo diferente da derrota fatal de todo um plano humanista que se encontrava a pleno vapor na Europa do Século XIX (a pintura foi inspirada na notícia de um roceiro caçador de lobos predadores de gado que desapareceu certo dia para reaparecer como um cadáver parcialmente comido pelos mesmos lobos que pretendia eliminar). Sentindo-se um incompreendido em seu discurso artístico, Seton retornou então para a América do Norte para seguir sua vida em meio aos ambientes selvagens como um estudioso dos animais que tanto respeitava. 

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