LASERCAST #13 - Quadrinho brasileiro a granel!

LASERCAST #13 - Quadrinho brasileiro a granel!

A equipe Raio volta ao chamado “quadrinho brasileiro contemporâneo” não apenas para resenhar literalmente dezenas de títulos, mas também discutir estética, mercado e crise nas diversas tendências dos gibis-BR da atualidade.

Participam do debate: Ciro Inácio Marcondes, Dandara Palankof, Márcio Jr. e Pedro Brandt.

Edição: Eder Freire.

Disponível em: SPOTIFY, APPLE PODCASTS, GOOGLE PODCASTS, CASTBOX, ANCHOR, BREAKER, RADIOPUBLIC, POCKET CASTS, OVERCAST, DEEZER

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Rapidinhas #15 - Quadrinhos Digitais

Rapidinhas #15 - Quadrinhos Digitais

Tá de quarentena, em casa, na medida do possível e do saudável? Ótimo, permaneça assim. Para você nem precisar sair para comprar gibi, a RAIO LASER faz um delivery de quatro resenhas curtas de Quadrinhos Digitais que você pode conferir do conforto e da segurança do seu lar. #FicaEmcasa #LeiaQuadrinhos (BP)

por Lima Neto, Bruno Porto, Márcio Jr. e Ciro I. Marcondes

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Marvel lança livro-homenagem: falamos com Mike Deodato






















por Pedro Brandt

O paraibano Deodato Taumaturgo Borges Filho, ou Mike Deodato Jr., como os leitores de quadrinhos o conhecem, é um dos mais antigos desenhistas brasileiros trabalhando para a Marvel Comics. A editora americana lança no mês que vem um livro, The Marvel Art of Mike Deodato,com alguns dos melhores desenhos do artista. Conversamos com Deodato sobre o lançamento, sua rotina de trabalhos, influências e alguns outros assuntos. Confira abaixo.

Qual a sua participação na feitura do livro? Você deu sugestão para alguma coisa?
Muito pouca na verdade e achei melhor desta maneira. Se eu tivesse escolhido as peças a serem mostradas eu poderia estar sendo influenciado por motivos alheios à arte em si. Foi minha a decisão de fazer uma capa nova, ao invés de uma colagem com antigos desenhos. Tive a ingrata missão de escolher cerca de 25 capas para serem cortadas por falta de espaço. Contribuí também com uma longa entrevista e vários comentários e detalhes de bastidores espalhados pelo livro.

O livro será lançado em 6 de junho nos Estados Unidos. Você já viu como ele ficou? Teve acesso à “boneca” do livro ou uma versão em pdf?
Tive acesso, sim, para dar uma revisada. Fiquei muito emocionado com os depoimentos de colegas.

O livro foi escrito pelo John Rhett Thomas. Ele te entrevistou para fazer o livro? Ou o texto dele é mais uma análise sobre a sua obra/ carreira?
Ele passou a tarefa da entrevista para meu compadre, agente e amigo de muitos anos, David Campiti.

E sobre as ilustrações, tem material de todos os seus trabalhos para a Marvel? Tem também alguma coisa que você fez para outras editoras? Tem desenhos inéditos, nunca publicados?
São só trabalhos pela Marvel. Cobre tudo que eu fiz de melhor por eles. Tudo é um modo de dizer, porque são só 240 páginas e, como eu estou na Marvel desde 1995 e sempre fui muito prolífico, o material é muito vasto. Tem bastante material inédito também.

Quais os seus cinco trabalhos que mais te orgulham? Por que?
O álbum 3000 Anos Depois, que fiz com meu pai em 1984. Me valeu uma participação na delegação brasileira que foi à França em 1986. Conheci Ziraldo, Maurício, Laerte, Luís Gê, Angeli, Chico e Paulo Caruso e Jô Oliveira. Me abriu muitas portas. Ziraldo me disse na ocasião que eu seria um grande desenhista e eu acreditei. : )
Santa Claws (1991). Foi meu primeiro trabalho pro mercado americano. Ainda acho que daria um grande filme de suspense.
Mulher Maravilha, na DC (1994). Foi quando o grande público americano me “descobriu”.
Hulk (2002). Foi a minha volta à Marvel, depois de uma fase ruim e a volta às graças com o público e a crítica. Estava começando a entender a importância da narrativa.
Este livro. É um sonho de rapazote, quando ainda nem era profissional, de me ver num livro desses. Uma tremenda demonstração de carinho da Marvel.

O seu traço passou por várias fases e influências . Como é isso para você? É algo que acontece naturalmente ou você pensa “cansei do meu traço, vou tentar algo diferente”? Acredita que você chegou em seu estilo definitivo?
Acontece de várias maneiras, na verdade. Muda com o tempo, sem eu perceber. Muda quando eu quero tentar algo novo. Muda quando eu percebo que não está ficando do jeito que queria. Muda quando eu vejo alguém fazendo algo muito legal e eu fico com inveja. Não sei se nunca vou chegar a um estilo definitivo nem se quero isto. O mais legal de se fazer algo que se gosta muito é sempre tentar melhorar e aprender.

E por falar em influências, quem você diria são as influências determinantes no seu jeito de desenhar? Aqueles caras que até hoje são referência? E quem você diria que foi uma influência, talvez por imposição do mercado, mas hoje não te interessa mais?
Nunca fiz algo por imposição do mercado.  Os desenhistas que eu aprendi a desenhar estudando (e copiando) seus traços foram:  Neal Adams, Dick Giordano, Will Eisner, Paul Gulacy, Berni Wrightson, Frank Frazetta, Jim Steranko, entre outros.

Você tem “outros traços”? Conseguiria fazer uma história mais cartum ou mais BD, por exemplo?
Tenho sim. Trabalhei muitos anos como chargista e fiz alguns fanzines de humor. Atualmente, só uso esse estilo pra fazer cartões pra minha esposa e minha filha.

Você trabalha muito com referências fotográficas para seus desenhos. Queria que você comentasse o uso desse recurso. Acho que, por um lado, o desenho ganha em realismo, mas por outro, eu diria que perde em dinâmica — às vezes me parece como ler uma fotonovela.
Acho que depende como você os utiliza. Neal Adams sempre usou referências fotográficas e não existe desenho  mais dinâmico que o dele. Aliás, fiquei muito feliz quando o filho dele postou no twitter que Neal costumava dar pra ele revistas minhas quando queria ensinar pra ele desenhos realistas e excitantes. Nem consegui dormir. Alegre!

Ainda sobre a questão anterior, como manter a autocrítica sobre a sua produção e não se deixar cair na autoindulgência?
Não sei qual é a fórmula, mas eu sou assim por natureza. Tô sempre me avaliando. Quando folheio uma revista minha, procuro sempre ver o que funcionou e o que precisa ser deixado de lado. Presto muito atenção às críticas, mesmo que não concorde com elas.

Como é o seu ritmo de trabalho? Quantas páginas você faz por dia?
Uma. Desenhada e finalizada. Poderia fazer mais, mas faz anos que decidi trabalhar menos e com mais qualidade. Mesmo assim é uma rotina bem puxada. Trabalho todos os dias. A diferença é que amo o que faço.

Dá um frio na barriga saber que o seu trabalho será arte-finalizado por outra pessoa? Já fizeram muita “cagada” com seus desenhos?
Muuuita. Meu melhor arte-finalista foi Pimentel, mas eu prefiro finalizar eu mesmo. Faz uns cinco anos que eu não deixo ninguém me finalizar.

O editor pode interferir na sua arte? Pedir para algo ser refeito por este ou aquele motivo? Você tem algum exemplo disso para contextualizarmos a questão?
Pode e deve. É um trabalho de equipe e ele está lá justamente pra apontar os erros que eu eventualmente deixo passar. Podem ser coisas simples, como nesta página onde Tom (Brevoort, editor, @TomBrevoort) achou que o quadrinho encostando na cabeça do guarda não estava funcionando e me pediu pra mudar.

São poucos os artistas da Marvel e DC que chamam a minha atenção hoje em dia. Comparando com os anos 1990, eu arriscaria dizer que aquela época tinha mais desenhistas de destaque. O que você acha? Na sua opinião, quem são os grandes dos comics em atividade hoje e por que?
Eu acho que não tem tanta gente boa hoje em dia. Você já viu aquele blog Comic Twart? Só ali tem um monte. Os estilos estão bem mais variados. Rafael Albuquerque, Gabriel Bá, Fabio Moon, Eduardo Risso, Rafael Grampá, Greg Tochinni, Frank Quitely, Farel Dalrymple, Cameron Stewart… a lista é enorme. Só as coletâneas de Mauricio De Sousa e o MSP 50 já dão uma amostragem bem legal de quantos talentos tem por aí. A Marvel também tá trazendo um monte de Europeus bons pra caramba. 

Ainda sobre o assunto da pergunta anterior, muitos bons desenhistas dos quadrinhos migraram para outras áreas, ainda que trabalhando com desenho. Acredita que o mercado de quadrinhos se tornou menos atraente para os desenhistas (tanto para os veteranos quanto para os novatos)? Por que?
É um mercado bem pequeno e definitivamente não paga tão bem quanto ilustração pra livros, revistas e publicidade. Talvez seja por isso.

Se você fosse fazer uma série com total liberdade criativa, o seu traço seria diferente do que você usa nos seus trabalhos com a Marvel? E como seria?
Quero tentar um dia algo bem mais claro, sem sombras no nanquin, deixando a maior parte do sombreado pro colorido — que seria feito por mim mesmo.

Em quais títulos você está trabalhando atualmente? Até quando fica com eles? Já tem algum outro projeto em negociação? Qual?
New Avengers. Não sei até quando, depende da Marvel. De vez em quando faço uma história curta pra um ou outro título e capas diversas. Tenho dado pistas na Marvel que gostaria de tentar os X-Men, vamos ver.

Como anda o projeto de revitalização do Flama (personagem criado pelo pai de Deodato Borges e publicado nos anos 1960)? O que você já pode comentar sobre o projeto?
O roteiro do primeiro número está pronto e estes são os únicos desenhos que posso divulgar. Tô esperando um folguinha pra poder pegar de vez. O texto é do meu amigo Rodrigo Salem. Fiquei surpreendido com o talento dele pra contar histórias, só conhecia o lado dele jornalista. É algo que quero muito fazer não só pelo excelente texto, mas também porque é uma homenegem ao meu pai, que começou tudo pra mim.