Quatro vezes John Romita Jr.

Quatro vezes John Romita Jr.

Nem eu nem os amigos que assinam os textos abaixo estaremos na CCXP 2018, super evento de cultura pop em São Paulo que, entre 6 e 9 de dezembro, recebe como convidados uma série de artistas, brasileiros e estrangeiros, para sessões de autógrafo, lançamentos, palestras, etc. e tal. Estivéssemos lá, o entusiasmo maior, com certeza, seria sobre a presença do desenhista americano John Romita Jr. Falo por mim, mas sei que falo também pelos comparsas de Raio Laser, que Romitinha está em nossa lista de ilustradores de quadrinhos favoritos. Sendo assim, seria sensacional poder encontrá-lo e pegar um autógrafo (um sketch, quem sabe), fazer uma foto e trocar meia dúzia de palavras para agradecê-lo pelas milhares de páginas produzidas ao longo dessas décadas todas.
Mas, qual revista autografar? Uma edição de X-Men, em formatinho, de quando Romita Jr. fazia as histórias dos mutantes tendo Magneto como líder? Ou uma Super Aventuras Marvel, com alguma história do Demolidor escrita por Ann Nocenti? Ou a edição especial Grandes Heróis Marvel - n° 50 (também em formatinho), que compila “Justiceiro - O Homem da Máfia”, com a versão parrudíssima do personagem? Quem sabe então a minissérie Homem Sem Medo, em parceria com Frank Miller (e arte final do monstro Al Williamson)? Ou talvez a one-shot Corações Negros, estrelando Motoqueiro Fantasma, Wolverine & Justiceiro?

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Kingdom Comics: o fim de uma era

Kingdom Comics: o fim de uma era

No momento em que começo a escrever esse texto, são 13h em Roma. Daqui a duas horas, mais exatamente às 10 da manhã no horário de Brasília, está marcado para acontecer o começo do fim. Se você não sabe do que estou falando, explico. Hoje, 22/09/18, é o último dia de funcionamento da Kingdom Comics, loja especializada em HQs e camisetas, que ajudei a fundar 22 anos atrás. Sim, o sonho acabou. Considerando a baixa longevidade das microempresas no Brasil, pode-se dizer até que a Kingdom durou bastante. Mesmo assim, a tristeza é grande.

A loja começou em 1996. Não vou entrar muito em detalhes sobre isso, porque já existe um mini documentário muito bacana sobre isso, feito pela Rafa Rodrigues em 2006. Agora, talvez seja melhor falar um pouco sobre o que aconteceu desse momento da época das filmagens até hoje.

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Asterix poderia ser a melhor HQ da história? O que os novos álbuns dizem sobre isso.

Asterix poderia ser a melhor HQ da história? O que os novos álbuns dizem sobre isso.

Eu costumava defender que Asterix é a melhor história em quadrinhos de todos os tempos. Hoje, acho que este tipo de categorização não faz o menor sentido, por razões bastante óbvias. Mas, a título de curiosidade, o que eu argumentava?

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Cavaleiro das Trevas III: A Raça Superior ou Frank Miller transformado em commodity - 1º ensaio

Cavaleiro das Trevas III: A Raça Superior ou Frank Miller transformado em commodity - 1º ensaio

Muito já foi dito sobre Cavaleiro das Trevas III: A Raça Superior, nova investida de Frank Miller ao universo que o consagrou por definitivo em 1986, quando do lançamento da antológica minissérie original. Considerando-se que a HQ permanece incompleta, isso só reforça um fato: Miller segue como o maior e mais influente quadrinista da indústria norte-americana desde Jack Kirby. E isso não é Ki-Suco de groselha. Com a chegada da primeira edição às bancas brasileiras, via Panini, passa a existir a possibilidade concreta de um encontro efetivo com essa nova obra – a menos para aqueles com R$ 9,90 no bolso. Assim, o que proponho aqui é uma série de ensaios, um a cada edição, sempre escritos no calor da batalha. Apesar da perda do status de unanimidade, o volume de polêmicas e discussões geradas por cada movimento de Miller mostra que o velhote (que cronologicamente nem é tão velhote assim, batendo na casa dos 59 anos) ainda tem tinta pra queimar.

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Hokusai inventou o mangá?

Hokusai inventou o mangá?

Antes de propriamente retomar o intenso trabalho que será reformular a nossa querida Raio Laser em 2015, cabe um post que retome um pouco a origem dos quadrinhos. Quero dizer: que busque mais um mito de origem para os quadrinhos do que qualquer outra coisa. Trilhar um caminho vetorial e teleológico para a História nunca é uma opção muito legal, já que tendemos a condensar o mundo numa visão seletiva (logo, impositiva) e simplista, perdendo tudo o que ocorre ao redor (justamente o que há de mais interessante). Porém, um exercício de fantasia histórica não vai nos fazer mal. Há mais, de tudo que envolve nosso hábito de ler quadrinhos em 2015, no imaginário japonês do séc. XIX, do que talvez se costume considerar. Vamos dissecar isso um pouco .

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Guerra Civil: o irreversível ocaso dos super-heróis

Guerra Civil: o irreversível ocaso dos super-heróis

Certo dia, quando estava elaborando algumas linhas de pensamento para escrever um texto sobre a série Guerra Civil, da Marvel, que estava lendo no momento, eu adormeci. Curiosamente, estas elocubrações bem conscientes e planejadas acabaram transformando-se no mundo absurdo e sem rédeas do sonho. Não tão exótico, mas significativo: um sonho de voo. Este tipo de sonho não é novidade para mim. Desde criança sonho que possuo a habilidade de voar, seja flutuando como um astronauta, dando rasantes como um jato, ou vertendo o céu aberto, como um super-herói. A quantidade de vezes em que mergulhei na experiência do voo (que é contagiante e prazerosa) me fez ter sonhos continuados a respeito deste assunto. Se, em um sonho, eu estava desajeitadamente aprendendo a voar, no seguinte eu já tinha domínio e podia me exibir narcisicamente para as outras pessoas. Depois de centenas de sonhos deste tipo, me tornei um mestre na arte do voo, e passei a uma nova etapa: desenvolver uma ciência do voo, que é refletir, durante o sonho, sobre a habilidade técnica de voar, sua natureza e limitações, etc. A ciência do voo, por sua vez, me despertou para pensar numa ciência do super-herói.

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Spirit e a teoria do caos

Spirit e a teoria do caos

Em vários quadrinhos de Will Eisner, mas especialmente radiografado em sua obra-prima Avenida Dropsie, de 1995, há um fator de complexidade que faz emergir dois patamares de tessitura das histórias. Explico-me: em Dropsie, há um emaranhado incontável de fatores imprevisíveis – incêndios, guerras, suicídios, mortes acidentais, mercado imobiliário, etc , etc – além de outros mais facilmente calculáveis – levas de imigrantes, intolerância étnica, crescimento industrial, etc , etc – que fazem Eisner dirigir o sentido de um bairro em Nova York, de seu precoce estabelecimento no Séc. XIX até a sua ruína, afundada por crises financeiras, manipulações especulativas e invasão de sem-teto, no final do Séc. XX. O significado que o autor queria dar a isso é bastante claro num primeiro plano: as cidades, prédios e estabelecimentos em geral possuem uma história própria, uma trajetória que se assemelha de alguma forma à de um organismo vivo; um organismo formado pelos vivos. Daí sua vivificação do espaço, o uso dos quadros vazados ou sangrados (que fazem a HQ “respirar”), de sua preocupação em trazer vida também à estrutura espacial de formação da HQ como um todo, aproveitando tanto o espaço interno quanto externo dos quadrinhos

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