JORNADA!!!

Começa amanhã, e segue até quarta-feira, a III Jornada de Estudos Sobre Romances Gráficos na UnB. O evento é organizado pelo Grupo de Estudos em Literatura Brasileira Contemporânea e, desta vez, tive a honra de participar da organização. Apresentarei, logo na primeira mesa, no dia 24, o trabalho "A espaçotopia a partir de Moebius", e vou ministrar um pequeno workshop sobre a história dos Quadrinhos no dia 25. A programação está muito rica e conta ainda com o lançamento do livro Histórias em quadrinhos: diante da experiência dos outros, organizado por Regina Dalcastagnè.

Segue a programação abaixo e... programe-se! (CIM)


III Jornada de Estudos sobre Romances Gráficos
 
Brasília – Universidade de Brasília – 24 a 26 de setembro de 2012
Local: Auditório 1 do Instituto de Ciências Biológicas
Coordenação: Regina Dalcastagnè (UnB) 
Comitê organizador: Ciro Inácio Marcondes (UnB), Gabriel Estedis Delgado (UnB), Igor Ximenes Graciano (UFF), Ludimila Moreira Menezes (UnB), Maria Clara da Silva Ramos Carneiro (UFRJ) 
Organização: Grupo de Estudos em Literatura Brasileira Contemporânea
Apoio: Departamento de Teoria Literária e Literaturas 
Inscrições pelo e-mail:jornadaromancesgraficos@gmail.com
As histórias em quadrinhos contaminaram o imaginário contemporâneo com seus personagens mais famosos, assim como sua estrutura icônica e sua narrativa tornaram-se referência para outras artes. Elas fazem parte do universo plástico e afetivo de pessoas de diferentes faixas etárias, gêneros, nacionalidades. Das tiras às histórias mais longas, seu sistema compreende diversos modos de realização, dentre as quais destacamos as graphic novels – ou romances gráficos. Fugindo ao herói tradicional dos gibis, muitos romances gráficos tratarão de temas extremamente literários, trazendo à baila, também, novas possibilidades discursivas. Dessa forma, os romances gráficos suscitam questões sobre o mercado livreiro, a indústria do entretenimento, a arte como relato e testemunho, e apresentam-se como espaço de exercício sobre memória, subjetividade, gênero, sexualidades. São problemas frequentes para a crítica literária que podem ser analisados, hoje, à luz desse objeto cultural ainda tão pouco estudado. 
Nesse âmbito, a Jornada de Estudos sobre Romances Gráficos, organizada pelo Grupo de Estudos em Literatura Brasileira Contemporânea da Universidade de Brasília, chega à sua terceira edição confirmando-se como um espaço necessário ao aprofundamento de tais discussões. Reunindo estudantes, profissionais da área de comunicação, artes e literaturas, professores e pesquisadores, o evento cresce a cada ano, envolvendo, a cada vez, novos eixos de debates.


PROGRAMAÇÃO
Dia 24/9
MESA 1
8h às 10h
Pontos de contato entre literatura infantil e histórias em quadrinhos no mercado editorial brasileiro
Paulo Ramos (Unifesp)
A espaçotopia a partir de Moebius 
Ciro Inácio Marcondes (UnB)
A utopia enquanto forma em La fièvre d’Urbicande
André Cabral de Almeida Cardoso (UFF)
MESA 2
10h30 às 12h
Formas animadas e percursos de leitura da imagem: vetorialidade e sistema das ações no humor gráfico
Benjamim Picado (UFF)
Sigmund Freud em quadrinhos: O homem dos lobos 
Pascoal Farinaccio (UFF)
Arquiteto de papel: ação do duplo em Asterios Polyp
Rosângela Maria Soares de Queiroz e Cleriston de Oliveira Costa (UEPB)
MESA 3
14h30 às 16h
Os homens da areia de Hoffmann e Gaiman
Sílvia Herkenhoff Carijó (UFF)
A fase independente de Alan Moore e sua cria subversiva
Naiana Mussato Amorim (UFU)
A Liga Extraordinária: o fanfiction de Alan Moore e Kevin O’Neill
Vinicius da Silva Rodrigues (UFRGS)
MESA 4
16h30 às 17h30
Jonah Hex: um cowboy americano de típico italiano
Alex Vidigal Rodrigues de Sousa (UnB)
Os cegos, os mortos, os bárbaros: desastre, violência e prognósticos do presente em Os mortos-vivos e Ensaio sobre a cegueira 
Pedro Galas Araújo (UnB)



Dia 25/9
MESA 5
8h30 às 10h
A difícil representação da equivocidade feminina em O homem que ri: da narrativa hugoana aos romances gráficos da contemporaneidade  
Junia Regina de Faria Barreto (UnB)
O grotesco e a monstruosidade feminina em Y: o último homem
Anne Caroline de Souza Quiangala (UnB)
Anti-urbanismo queer em Fun Home: uma tragicomédia em família, de Alison Bechdel
Adelaide Calhman de Miranda (UnB)
MESA 6
10h30 às 12h
Gênero, Shoujo Mangá e história alternativa: reflexões sobre Ōoku de Fumi Yoshinaga
Valéria Fernandes da Silva (FTB/Colégio Militar de Brasília)
Representações da prostituição nos quadrinhos
Daniel Leal Werneck e Letícia Cardoso Barreto (UFMG)
MESA 7
14h30 às 16h
Liberação sexual: a juventude da contracultura a partir da autobiografia de Robert Crumb, emMinha vida
Larissa Silva Nascimento (UEG)
Autobiografia e subjetividade: Fréderic Boilet e a nouvelle manga
Tiago Canário de Araújo (UFBA)
Sarjeta: o espaço subjetivo dos quadrinhos
André Valente (UnB)
MESA 8
16h30 às 18h
Capuchinho Vermelho, de Charles Perrault, e Mônica: a de vestidinho vermelho, de Mauricio de Sousa: dois estilos, duas linguagens e a expressão contemporânea do conto de fadas
Rita de Cássia Silva Dionísio (UNIMONTES)
O exílio da gata: a mulher felina como ameaça sexual em Batman
Marcia Heloisa Amarante Gonçalves (UFF)
Heróis em ação: palavra, narrativa e heroicidade na longa viagem entre o passado e o presente
Juliano de Almeida Pirajá (UEG)



Dia 26/9
MESA 9
8h30 – 10h
Narrativas contemporâneas: das artes “à margem”. Sobre Encruzilhada e outras “artes periféricas”
 Maria Clara da Silva R. Carneiro (UFRJ)
A imagem na palavra, a representação sob o signo da Esfinge em A arte de produzir efeito sem causa, de Lourenço Mutarelli
Rafael Martins (UFMG)
A narrativa visual em Eu te amo Lucimar, de Lourenço Mutarelli
Guilherme Lima Bruno E. Silveira (UNESP/São José Rio Preto)
MESA 10
10h30 – 12h
Infortúnios espaciais, prosperidades distantes em Lucille e Renée, de Ludovic Debeurme
Ludimila Moreira Menezes (UnB)
Desenhos do isolamento: personagens de Jimmy Corrigan, de Chris Ware
Breno Couto Kümmel (UFMG)
The Left Bank Gang: crise da memória e a crise na escrita
Pedro Henrique Trindade Kalil Auad (UFMG)
MESA 11
14h30 – 16h
Tradução e formação do mercado editorial dos quadrinhos no Brasil
Dennys da Silva Reis (UnB)
E-comics: linguagens, estratégias e prospectivas
Raimundo Clemente Lima Neto (UnB)
A poética da imagem como o atrativo de HQs
Eliane Dourado (UnB)
MESA 12
16h30 – 17h30
A peso do fandon no universo dos quadrinhos
Lucas de Sousa Medeiros (UFU)
Graphic novels na escola: o que propõem os suplementos de leitura?
Angela Enz Teixeira (UEM)



Oficinas
24/09 (18:30 às 21h30)
Oficina Básica de HQ’s, com André Valente
25/09 (18:30 às 21h30)
Oficina “História dos quadrinhos em 3 atos”,  com Ciro Marcondes



Lançamentos
Livro Histórias em quadrinhos: diante da experiência dos outros, organizado por Regina Dalcastagnè.
Número 39 da revista Estudos de literatura Brasileira Contemporânea, com dossiê sobre “realismo e realidade”.

Serviço de utilidade pública: III Jornada de Romances Gráficos


III JORNADA DE ESTUDOS SOBRE ROMANCES GRÁFICOS
Data: 24 e 25 de setembro de 2012.

Local: Auditório 1 do Instituto de Ciências Biológicas – Universidade de Brasília


O Grupo de Estudos em Literatura Brasileira Contemporânea convida para a terceira edição da Jornada de Estudos sobre Romances Gráficos. Dando prosseguimento e ampliando as discussões sobre as narrativas gráficas e suas relações, alcances, disputas no campo literário, o evento consistirá de apresentação de trabalhos, palestras com convidadas(os), oficinas, lançamentos sobre o tema. O público alvo é composto de pesquisadoras(es), estudantes, profissionais da área e interessadas(os) em geral, que poderão participar com a apresentação de trabalhos ou como ouvintes.

Inscrição: A inscrição será realizada pelo e-mail do evento – jornadaromancesgraficos@gmail.com – a partir de 15 de abril.
Pagamento da inscrição: O pagamento deverá ser realizado no primeiro dia do evento.
Professoras(es): R$ 70,00. Alunas(os) de pós-graduação: R$ 50,00. Alunas(os) de graduação: R$ 30,00. Ouvintes: R$ 20,00.

Vagas: 30 para apresentação de trabalhos e 100 para ouvintes.
Informações: http://www.gelbc.com.br
Submissão de trabalhos: 
Para inscrição de trabalhos, as(os) interessadas(os) deverão encaminhar resumo a ser analisado pela organização do evento. Estudantes de graduação poderão participar com a apresentação de pôsteres. O prazo final para envio é 20 de maio.

As(os) proponentes receberão um e-mail com a resposta até o dia 30 de junho, informando da aceitação ou não do seu resumo.
Todo o processo de encaminhamento de resumos será feito via e-mail do evento: jornadaromancesgraficos@gmail.com

Normas para apresentação do resumo para avaliação: 
A apresentação da proposta de trabalho deve conter, nesta ordem:
1) Nome completo da(o) autor(a), cidade, instituição a qual está vinculada(o), tipo de vínculo, e-mail para contato.
2) Indicação do eixo temático onde o trabalho pode ser inserido.
3) Título do trabalho, fonte times new roman, corpo 14, em negrito, centralizado.
4) Resumo, com no máximo 250 palavras, em fonte times new roman, corpo 12, espaço simples.

Eixos temáticos:
- Memória e subjetividades
- Gênero e sexualidades
- Reportagem, testemunho e relato
- Quadrinhos como expressão pictórica
- Quadrinhos de entretenimento
- Quadrinhos e mercado

Informações para apresentação de trabalhos orais: 
As apresentações terão duração máxima de 20 minutos. Será disponibilizado power point; para sua utilização, o arquivo com o trabalho deverá ser entregue com antecedência à organização do evento.

Informações para apresentação de pôsteres:
Caso o trabalho seja aceito, o pôster deverá, obrigatoriamente, ser fixado e retirado pela(o) participante no dia e local definidos pela organização. Mais detalhes serão fornecidos posteriormente.

Normas para submissão dos trabalhos científicos para os Anais:
1. Os trabalhos deverão ser enviados exclusivamente pelo e-mail do evento.
2. O trabalho deverá ter no máximo 30 páginas, incluindo as referências, conforme modelo definido pela organização, a ser divulgado. 
3. Mensagens relacionadas ao status de avaliação/aceitação ou não do trabalho serão enviadas por meio de e-mail informado na ficha de inscrição do(a) autor(a). 
4. Os trabalhos que não estiverem de acordo com as normas de submissão serão automaticamente desconsiderados para os anais.

Coordenação:
Profª Drª Regina Dalcastagnè (UnB)

Comitê organizador:
Ciro Inácio Marcondes (UnB)
Igor Ximenes Graciano (UFF)
Ludimila Moreira Menezes (UnB)
Maria Clara da Silva Ramos Carneiro (UFRJ)

Comissão acadêmica: 
Prof. Dr. Anderson Luís Nunes da Mata
Profª Drª Cíntia Schwantes
Profª Drª Maria Isabel Edom Pires
Prof. Dr. Paulo César Thomaz
Profª Drª Virgínia Maria Vasconcelos Leal

Organização: 
Grupo de Estudos em Literatura Brasileira Contemporânea

A importância histórica e estética dos quadrinhos de guerra: Harvey Kurtzman e Héctor Oesterheld



por Ciro I. Marcondes

Este artigo foi produzido para dois congressos pioneiros na tentativa de amadurecer os estudos universitários sobre histórias em quadrinhos no Brasil. O primeiro deles foi a II Jornada de Romances Gráficos, organizada pelo Grupo de Estudos em Literatura Brasileira Contemporânea, que rendeu debates amplos sobre a necessidade de se pensar os quadrinhos no Brasil, participações memoráveis de quadrinistas como Laerte e pesquisadores como Benjamin Picado e Elvira Vigna, além de um texto afetivo da Raio Laser. Os textos do congresso podem ser lidos aqui.

O segundo foram as 1as Jornadas Internacionais de Histórias em Quadrinhos, realizadas, em agosto na ECA-USP. De maior porte e maior diversidade temática (foram abordados aspectos múltiplos da história, da indústria, da tecnologia e da estética dos quadrinhos), este encontro foi fundamental para legitimar ainda mais esta opção de pesquisa, fazendo uma varredura espessa na maneira com que a pesquisa científica pode olhar para o fenômeno que são os quadrinhos.

Segue, então, meu artigo completo, publicado nos anais dos dois congressos, expandindo o que eu já havia anunciado em Raio Laser. Boa leitura e comentários são sempre bem-vindos.


1 – Introdução:

O estudo das histórias em quadrinhos (HQ), mesmo dentro de um mais aberto ambiente cultural contemporâneo, ainda precisa enfrentar, em sua revisão histórica, o problema de o meio ter sido abertamente manipulado, através de décadas, para que seu conteúdo se mantivesse sob rigoroso controle de suas potencialidades expressivas. Mais do que isso, outro problema é procurar vasculhar o valor cultural da trajetória das HQs quando é sabido (cf. HADJU, 2009) que elas foram também controladas mercadologicamente e ideologicamente em função de diversos interesses políticos e econômicos, sempre relativizados porque eram “produto para crianças”, álibi perfeito para transformá-las em espécie de subproduto cultural aparentemente sem importância.

Este artigo procura demonstrar que um estudo retrospectivo a respeito da inserção das histórias em quadrinhos na vida cultural do século XX não apenas tem valor para o estudo da produção cultural e social, mas também valor legítimo histórico, sendo influente sobre os eventos que narra, com alguns exemplos de decisiva capacidade crítica, e por fim de influente problematização estética. O universo das guerras modernas tem sido amplamente debatido tanto no âmbito da filosofia quanto da história, da literatura e da sociologia, assim como, obviamente, no cinema e no jornalismo, praticamente desde antes de as grandes guerras terem propriamente eclodido, e uma simultaneidade de questões são levantadas sempre em confluência com o surgimento de mais e mais campos e ambientes de conflito através dos séculos XX e XXI. A inserção da cultura de HQs neste debate, entretanto, é nova por parte tanto de uma revisão histórica, quanto sociocultural, quanto estética.

Cabe, portanto, lembrar um pouco da apropriação que as editoras americanas, nos anos 30 e 40, fizeram da imensa popularidade dos quadrinhos na época, para instilar, mesmo nas mentes infantis, uma noção de total união em torno dos ideais americanos, que transformavam todo tipo de participação civil em um ato em colaboração com a guerra, mesmo em terra natal. Em 1943, após a declaração de guerra americana, mais de 30 milhões de HQs eram vendidas mensalmente nos EUA,  e uma em cada 4 revistas enviadas às tropas americanas eram revistas em quadrinhos (cf. WRIGHT, 2003, p.31). O assédio aos meios de comunicação no final dos anos 30 e começo dos anos 40 coincidiu com a popularização do formato dos quadrinhos em revista, a criação dos super-heróis e de um aumento de camadas sociais, de gênero e de gerações que consumiam as HQs. Super-heróis hoje dominantes na cultura pop, como o Super-Homem, Batman ou Capitão América (criado especialmente com este fim, seguido de vários outros) rapidamente se tornaram emblemas de militarização e conscientização sobre a necessidade de apoiar incondicionalmente a participação americana na guerra. As crianças, inescapavelmente, eram convocados pelos super-heróis a contribuir com a cultura beligerante, mas defensora da democracia:

As editoras também viram que podiam melhorar sua imagem associando os produtos ao patriotismo e ao esforço de guerra. Superman salientou, aos leitores, a importância de doar para Cruz Vermelha Americana. Batman e Robin pediram às crianças para “manter a águia americana voando” através da compra de seguros de guerra e selos. Capitão América e seu ajudante Bucky mostravam aos leitores como coletar papel e metal para reciclagem. Editoras de todo o filão imprimiram um carta aberta do Secretário do Tesouro Henry Morgenthau Jr. pedindo a meninos e meninas que comprassem selos de guerra (Idem, p.34, tradução nossa).


O pesquisador Bradford Wright nos expõe, em Comic book nation, um detalhado histórico sobre como, desde antes do início da guerra e também antes do início dos ataques a Pearl Harbor, a indústria de quadrinhos americana (até hoje as vendas desta época se mostram dentre as mais rentáveis de todos os tempos) estava alinhada em esforços de patriotização, que envolvia grosseira demonização e estereotipagem xenófóbica, claramente conscientes de que uma entrada no conflito era iminente. Numa época em que a TV era ainda muito pouco influente, os esforços nacionais e praticamente unânimes das editoras ajudaram enormemente na tarefa difícil de manter o foco sobre a união nacional e impedir qualquer tipo de relativização pacifista.

O esforço de guerra dos quadrinhos, muito como o esforço político real, não deixou espaço para ambiguidade ou debates na maioria dos assuntos. Diretos, emocionais e ingênuos, os quadrinhos contribuíram para a largamente difundida impressão popular, que ainda persiste, de que a Segunda Guerra foi verdadeiramente uma “guerra boa” (Idem, p.44, tradução nossa).

Nosso estudo se concentrará em dois casos contraculturais e altamente influentes de histórias em quadrinhos de guerra que ajudaram a problematizar a indústria dos quadrinhos nos anos 50. Fundada nos anos 40, a Educational Comics (posteriormente “Entertainment Comics”, ou EC) deu radical guinada na visão americana sobre as HQs, trazendo conteúdo de muito mais verossimilhança, pessimismo e maturidade ao leitor (que já não era tão jovem), provocando a revolta de associações de pais e mestres e das igrejas. Seu reformulador, William M. Gaines, teve de depor à Suprema Corte Americana durante a Guerra Fria, e o legado da EC só pôde ser reconhecido décadas depois. Além de padrões grotescos de terror e ficção-científica, bastante chocantes, a EC ofereceu, através de uma visão arrojada e pós-moderna avant-la-lettre de seu editor, roteirista e desenhista Harvey Kurtzman, alguns dos melhores quadrinhos de guerra de todos os tempos, trazendo uma leitura sombria e niilista da Guerra de Coréia, que ainda estava em curso. Perceptivelmente influenciado por estes quadrinhos, o clássico roteirista argentino Héctor Oesterheld lançou, no final dos anos 50, a série Ernie Pike, de incrível visão humanística afiliada a seu peronismo radical, revisando a segunda guerra mundial como um constante ato fúnebre, de luto eterno, a partir do lápis do desenhista italiano Hugo Pratt.