Em vários quadrinhos de
Will Eisner, mas especialmente radiografado em sua obra-prima Avenida Dropsie, de 1995, há um fator de
complexidade que faz emergir dois
patamares de tessitura das histórias. Explico-me: em Dropsie, há um emaranhado incontável de fatores imprevisíveis –
incêndios, guerras, suicídios, mortes acidentais, mercado imobiliário, etc ,
etc – além de outros mais facilmente calculáveis – levas de imigrantes,
intolerância étnica, crescimento industrial, etc , etc – que fazem Eisner dirigir o sentido de um bairro em Nova
York, de seu precoce estabelecimento no Séc. XIX até a sua ruína, afundada por
crises financeiras, manipulações especulativas e invasão de sem-teto, no final
do Séc. XX. O significado que o autor queria dar a isso é bastante claro num
primeiro plano: as cidades, prédios e estabelecimentos em geral possuem uma
história própria, uma trajetória que se assemelha de alguma forma à de um
organismo vivo; um organismo formado pelos vivos. Daí sua vivificação do
espaço, o uso dos quadros vazados ou sangrados (que fazem a HQ “respirar”), de
sua preocupação em trazer vida também à estrutura espacial de formação da HQ
como um todo, aproveitando tanto o espaço interno quanto externo dos
quadrinhos.
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