por Pedro Brandt
A revista Animal teve vida
breve, durou 22 números, entre 1988 e 1990, mas deixou um legado que ainda
reverbera na memória de leitores e autores de histórias em quadrinhos. Foi em
suas páginas que vários personagens, roteiristas e desenhistas estrangeiros,
até então inéditos no Brasil, foram publicado no país pela primeira vez. O
espanhol Max foi um deles. Seu Peter Pank — uma
releitura mucho loca de Peter Pan — foi uma das séries mais populares da
publicação.
Depois disso, os fãs brasileiros
de Max ficariam anos sem notícias do espanhol, até a publicação, no final de
2006, de O prolongado sonho do Sr. T
(estreia da editora Zarabatana). Esse
distanciamento pode dar a impressão de que autor espanhol tem uma produção sazonal.
Não é o caso. Aos 55 anos, Max (nascido Francesc Capdevila) acumula quatro
décadas de ilustrações e histórias em quadrinhos e goza de grande prestígio na
Espanha. Em 2007, o barcelonês recebeu o Prêmio Nacional dos Quadrinhos. Ano
passado, foi tema de uma grande exposição retrospectiva no Museo Valenciano de la Ilustración y la Modernidad, em Valência, que depois
passou pela Cidade do México (contabilizando 30 mil visitantes) e desde 18 de
junho ocupa a galeria do Instituto Cervantes de Brasília, onde permanece até
agosto. De lá, segue para Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Salvador.
Pelas décadas
Marta, que esteve no Brasil para
montar a exposição e fazer uma visita guiada no dia da abertura, é amiga do
homenageado desde as primeiras publicações. Ela conta que os desenhos animados,
o rock, as artes plásticas e a literatura são algumas das influências de Max.
“Também os sábios, as bruxas, as ninfas e os bosques — por isso mesmo, ele
escolheu morar em Majorca, cercado de bosques”.
Max começou a publicar nos anos
1970, aos 16 anos, em revistas clandestinas. “Naquela época, a Espanha vivia
sob ditadura, e a contracultura americana, em especial, Robert Crumb, o
influenciaram bastante”, explica a curadora.
Nos anos 1980, já dono de uma
identidade gráfica própria, e participando da antológica revista El Víbora (da qual foi um dos fundadores), Max criou seu personagem mais conhecido. “Ele
poderia ter vivido só de Peter Pank, mas não é autor de um só personagem e foi
em frente”, pontua Marta Sierra.
O personagem Bardín, el
superrealista, marca sua produção nos anos 2000 com um surrealismo que evoca
Luis Buñuel e Salvadora Dalí. Recentemente, a obra foi incluída no livro 1001 comics you must read before you die
(“1001 quadrinhos para ler antes de morrer”, ainda inédito em português).
Em texto produzido para ser lido
por Marta na abertura da exposição, Max comenta que é sempre uma incógnita
saber como sua obra será recebida em outro país, mas está confiante que o
público desfrutará da exposição. “Meus desenhos falam visualmente de muitas
coisas que, tenho certeza, vocês vão se identificar”. O autor virá ao Brasil em
setembro, para participar de eventos de quadrinhos em Belo Horizonte e no Rio
de Janeiro.
Panóptica — 1973-2011
Exposição do espanhol Max. Até 11
de agosto, de segunda à sexta, das 11 às 21h. Sábados, das 9h às 14h, na
galeria do Instituto Cervantes (707/907 Sul). Informações: 3242 0603.
Classificação indicativa livre.
De onde vem seu pseudônimo?
Eu procurava um nome que soasse
igual em qualquer idioma. Um dia, vendo um livro de Max Ernst, um dos meus
pintores favoritos, me fixei em seu nome. Naquele momento (final dos anos 1970)
era um nome muito pouco conhecido na Espanha.
Em que obra você está trabalhando
atualmente?
Se chama Vapor. É uma novela gráfica de 110 páginas em preto e branco, sobre
um homem que está cansado do mundo e decide ir ao deserto buscar um pouco de
paz mental. Mas as distrações do mundo moderno o perseguem até lá. Começa como
uma comédia e termina como uma história de horror metafísico.
Como você mantém e renova o
interesse pelo trabalho?
Assim que um trabalho fica
pronto, me dou conta de quem não estou totalmente satisfeito com ele. Sempre
penso que o próximo pode ser melhor ainda. E a curiosidade, as perguntas sobre
o mundo e as pessoas são o motor para novas histórias.
Bem, gostaria de ver publicado Vapor, claro, mas especialmente Bardín, el Superrealista, que creio ser
uma obra que marcou um ponto de virada em meu trabalho, onde encontrei um
grafismo que buscava: minimalista e emocional ao mesmo tempo e com um tipo de
humor metafísico, divertido, profundo e inquietante que creio pouca gente
pratica.
Você visitará o Brasil em breve.
Conhece o trabalho de autores brasileiros de quadrinhos?
O único autor que conheço, e que
admiro muito, é o Fábio Zimbres. Também conheço o
trabalho de alguns ilustradores como Samuel Casal e Flávio Morais (que
mora na Espanha). Mas o quadrinho brasileiro para mim é um grande desconhecido.
Espero me atualizar na minha visita em setembro ao Rio e Belo Horizonte. Tenho
certeza que o Brasil pode ser extremamente inspirador para o meu trabalho.
2 comentários
Não conhecia os trabalhos de Max, mas achei bem interessante vou procurar mais coisas sobre ele. Muito bom este post.
orphan-comics.blogspot.com
vou conferir a exposição ! Gosto das entrevistas
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